Um novo estudo reforça a crença de que certas pessoas são abençoadas com bons genes no que diz respeito à saúde.De acordo com a pesquisa, indivíduos com uma certa variação no gene da lipase hepática, LIPC, na sigla em inglês, são mais vulneráveis aos efeitos de uma dieta gordurosa sobre o coração. Os níveis de colesterol HDL ("bom") eram mais baixos em adultos com duas cópias da variação do gene e que consumiam uma dieta rica em gorduras saturadas.
A mesma alimentação não causou redução do colesterol HDL entre adultos com apenas uma cópia do gene, que ajuda a regular a maneira como o colesterol HDL é processado no organismo.
As descobertas, publicadas na edição de rápido acesso da revista cientifica Circulation: Journal of the American Heart Association, fornecem "pistas" para resolver um dilema dietético que tem desafiado os pesquisadores.
"Essa é uma outra peça no quebra-cabeças que nos ajuda a explicar por que algumas pessoas reagem a uma mudança na dieta enquanto outras não", disse Jose M. Ordovas da Universidade Tufts em Boston, Estado de Massachusetts, nos EUA.
Em entrevista à Reuters Health, Ordovas afirmou que as descobertas demonstram como o gene funciona e reforçam a idéia de que algumas pessoas precisam restringir sua ingestão de gordura saturada. O pesquisador afirmou que de 4 a 5 por cento da população têm a mutação em ambos os genes, mas essa proporção varia de acordo com o grupo étnico.
O estudo, apesar de preliminar, também pode auxiliar os pesquisadores a planejar recomendações dietéticas para evitar doenças cardíacas baseados na genética. Os indivíduos com duas cópias da variante do gene, por exemplo, podem se beneficiar de uma restrição severa à gordura animal, uma vez que um nível baixo de HDL é um importante fator de risco para os males do coração.
Entretanto pesquisas adicionais serão necessárias antes que a realização de exames para a detecção do gene torne-se corriqueira.
A pesquisa incluiu mais de 2 mil adultos norte-americanos com idade média de 55 anos. Os voluntários tiveram seu sangue coletado e responderam a questões sobre hábitos alimentares. Os pesquisadores determinaram se eles carregavam a variante C, ou normal, do gene LIPC, ou a versão T, menos comum -- ou, ainda, ambas.
Os níveis de colesterol "bom" eram mais baixos entre aqueles com duas cópias da variante T do gene e que retiraram 30 por cento ou mais do total de calorias consumidas de alimentos gordurosos. Os médicos recomendam que a gordura represente menos de 30 por cento do total calórico. Não causou surpresa o fato de que os voluntários com duas cópias do gene e que seguiam uma dieta com baixos níveis de gordura apresentaram níveis de HDL 16 por cento mais altos do que dos outros analisados.
Entre os indivíduos com apenas uma versão T do gene, ou nenhuma, os níveis de HDL aumentaram mesmo à medida que a ingestão de gordura aumentou.
A relação entre a ingestão de gordura e o genótipo se manteve para a gordura saturada, encontrada em produtos de origem animal como carne e laticínios, e gordura monoinsaturada, presente em nozes, azeitonas e abacates. Os ácidos graxos poliinsaturados, encontrados em alguns peixes e no óleo de peixe, não pareceram influenciar a relação entre o genótipo e os níveis de HDL.