Realizar um exame de sangue que avalia a presença de um composto chamado proteína C reativa (CRP) e associar seus resultados aos de um outro teste, que mede o nível do colesterol "ruim," pode ser a melhor maneira de predizer o risco de uma pessoa sofrer enfarte ou derrame, informaram pesquisadores na quarta-feira.Essa conclusão é resultado de um estudo feito com cerca de 28.000 mulheres saudáveis e pode ajudar a explicar por que muitas pessoas com níveis de colesterol considerados adequados sofrem enfarte, disseram os pesquisadores em um artigo publicado na revista New England Journal of Medicine.
A Associação Americana do Coração (AHA) viu o artigo com entusiasmo e disse estar analisando seriamente a possibilidade de incluir o teste da CRP nas avaliações de rotina.
Mas o estudo também foi recebido com algum ceticismo pois alegações semelhantes se mostraram sem fundamento.
Coordenado por Paul Ridker, do Brigham and Women's Hospital e da Escola de Medicina de Harvard, em Boston, o trabalho atual tomou por base a teoria -- cada vez mais popular -- de que a inflamação contribui de forma importante para a formação das placas de gordura que recobrem as artérias internamente. Os níveis da CRP se elevam quando há inflamação.
No estudo, Ridker constatou que as pacientes com níveis sanguíneos da proteína C reativa superiores ao normal apresentavam um risco maior de sofrer enfarte e derrame, independente da taxa do colesterol "ruim." Entre as mulheres com níveis tanto de CRP quanto de colesterol "ruim" (ou colesterol LDL) elevados, essa probabilidade foi ainda maior.
As participantes com níveis de CRP e colesterol LDL inferiores à média tinham um risco de 1 por cento de ter enfarte ou derrame num período de 8 anos. A chance de ter a doença no mesmo período aumentou para 2 por cento quando a paciente apresentava apenas a taxa de proteína C reativa superior à normal, e chegava a 3,5 por cento quando a mulher tinha níveis aumentados tanto da CRP quanto do colesterol LDL.
Em um comentário sobre a pesquisa, Lori Mosca, da Universidade Colúmbia, disse que a validade do teste era discutível pois ainda não está claro se a inflamação é realmente uma das principais causas da doença cardíaca.
Mosca comentou ainda que não estava claro se o exame que mede a CRP era melhor para predizer o risco de enfarte do que alternativas mais conhecidas -- como o exame de colesterol total e a presença de outros fatores de risco como hipertensão arterial, tabagismo, obesidade e pouco condicionamento físico.
A especialista de Colúmbia afirmou que qualquer recomendação de uso do teste da CRP na prática médica pode ser prematura. A Associação Americana do Coração disse, porém, que avaliaria com atenção essa possibilidade.
"Acreditamos que a medição da CRP deveria ser seriamente avaliada como parte de uma estratégia para estimar o risco cardiovascular global de uma pessoa", disse Robert Bonow, presidente da Associação Americana do Coração. "A AHA e os Centros para Prevenção e Controle de Doenças (CDC) publicarão, em alguns meses, um relatório conjunto que incluirá recomendações para uso do exame da CRP na rotina."