Um estudo realizado com pacientes enfartados nas décadas de 50, 60 e 70 sugere que a taxa anual de mortalidade entre os sobreviventes que não recebem medicamentos modernos -- como a aspirina -- é de 5 por cento após a alta hospitalar.O risco parece persistir indefinidamente, "provavelmente pelo resto da vida", informou a equipe de Malcolm R. Law, da Universidade de Londres (Grã-Bretanha), na edição de 25 de novembro da revista Archives of Internal Medicine.
Os pesquisadores constataram ainda que, quando esses pacientes sofrem um segundo enfarte, 33 por cento não chegam vivos ao hospital, 20 por cento morrem durante o período de internação, e outros 20 por cento, no primeiro ano após a alta hospitalar. Depois dessa fase, a mortalidade alcança 10 por cento ao ano.
Em entrevista à Reuters Health, Law disse esperar que esses índices alertem os médicos sobre a importância do tratamento para ajudar a manter vivos os pacientes que sofreram enfarte -- também conhecido como enfarte do miocárdio. "É preciso garantir que todas as vítimas de enfarte, mesmo as que tiveram o problema em anos anteriores, usem o tratamento preventivo", disse o especialista.
Os pacientes também podem tomar iniciativas para permanecerem saudáveis após um enfarte ao usar os tratamentos preventivos indicados pelos médicos, parando de fumar e pedindo aos familiares que abandonem o cigarro, acrescentou Law.
No trabalho atual, a equipe avaliou 23 pesquisas já publicadas em que os cientistas acompanharam pacientes após o enfarte. Somados, os estudos incluíam informações sobre 14.211 pacientes e 6.817 óbitos. Nenhum desses trabalhos fez o acompanhamento dos pacientes após 1980, quando melhores tratamentos se tornaram disponíveis.
Law explicou à Reuters Health que as terapias capazes de manter os pacientes vivos após um enfarte incluem o uso de aspirina e de outras medicações que ajudam a evitar a formação de coágulos sanguíneos. O tratamento pode contar ainda com medicamentos destinados a reduzir a pressão sanguínea, como os beta-bloqueadores, os inibidores ACE ou os bloqueadores dos canais de cálcio.
O especialista disse que, hoje em dia, os médicos geralmente prescrevem estatinas para reduzir o colesterol e até mesmo ácido fólico, considerado por pesquisas recentes como capaz de evitar doenças cardiovasculares. Embora a aspirina seja conhecida há mais de 100 anos, o primeiro teste aleatório demonstrando que o medicamento poderia aumentar a sobrevida ao enfarte foi publicado em 1979, de acordo com a pesquisa.
A equipe verificou que, antes de 1980, 10 por cento dos pacientes que sobreviviam ao primeiro enfarte morriam até um ano após o episódio e que 5 por cento desses pacientes morriam anualmente nos anos subsequentes. Após 15 anos, 70 por cento de todas as vítimas de enfarte haviam morrido em consequência de problemas cardiovasculares, informaram os autores do novo estudo.
Após um segundo enfarte, a taxa de morte subiu para 20 por cento no primeiro ano e se estabilizou em 10 por cento para cada ano posterior de vida.
Law explicou que o enfarte indica que uma parte do músculo cardíaco não funciona mais. Algumas pessoas perdem uma grande quantidade de músculo cardíaco e não conseguem sobreviver nem um ano após o enfarte. Um segundo episódio pode danificar ainda mais o órgão, acrescentou Law.
"As taxas de morte são maiores após um segundo enfarte, pois não são muitas as pessoas que mantêm uma quantidade suficiente de músculo funcional após o segundo episódio do problema", disse o especialista.