Tomar o antidepressivo paroxetina, cujo nome comercial é Paxil, no final da gravidez pode aumentar o risco de complicações graves em recém-nascidos, informaram pesquisadores canadenses.Os distúrbios são temporários e não parecem provocar problemas duradouros. As conclusões da pesquisa não significam que as gestantes devam interromper o uso do medicamento, informou Gideon Koren, autor do estudo e chefe do programa de maternidade de risco da Universidade de Toronto, no Canadá.
"É uma droga muito eficaz, que ajuda milhões de homens e mulheres afetados pela depressão", disse o especialista à Reuters Health. Ele aconselha que as grávidas discutam o uso com seu médico, mas lembra que estudos recentes realizados por sua equipe "demonstraram riscos graves quando as gestantes interrompem o uso de antidepressivos."
Por causa dos riscos potenciais, os filhos de usuárias do medicamento deveriam ser acompanhados cuidadosamente e tratados, caso enfrentem algum distúrbio, disse. Para Koren, a boa notícia é que "parece ser um problema sem efeitos adversos prolongados." Na sua opinião, não é recomendável dar alta para a mãe e o recém-nascido apenas 24 horas após o parto, caso tenham sido expostos ao remédio.
A paroxetina é um inibidor seletivo de reabsorção de uma substância química cerebral responsável pela sensação de bem-estar, a serotonina. Pertence ao mesmo grupo de drogas que inclui o Prozac.
O remédio geralmente é prescrito para gestantes como tratamento da depressão, síndrome do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo. Não se conhecem defeitos congênitos que tenham sido causados pelo uso da droga durante a gestação, mas não há definição sobre se seu consumo é seguro no período final da gravidez.
Quando alguns pacientes interrompem o uso da paroxetina, apresentam a síndrome de "abstinência" semelhante à que acomete dependentes químicos quando interrompem o uso de drogas. Recentemente, houve vários registros de sintomas em recém-nascidos cujas mães tomaram o remédio durante a gestação, como irritabilidade, inquietação, choro excessivo, tremores e outros, informaram os autores na edição de novembro do Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine.
Para avaliar a associação entre uso de paroxetina na gestação e complicações em recém-nascidos, a equipe estudou 55 mulheres que usaram o medicamento no terceiro trimestre, bem como seus bebês. O estudo também incluiu 27 voluntárias que usaram a droga no primeiro e segundo trimestres de gravidez e 27 gestantes que não tomaram a medicação.
Do grupo de 55 bebês cujas mães usaram a droga no final da gestação, 12 tiveram complicações logo após o nascimento e precisaram ficar hospitalizados. A complicação mais comum registrada foi dificuldade respiratória, afetando nove bebês, seguida por baixo nível de açúcar no sangue, detectada em dois bebês e icterícia, verificada em um deles.
Os sintomas desapareceram em um período de uma a duas semanas. Três crianças em um grupo controle de 54 bebês apresentaram complicações semelhantes, verificaram os pesquisadores.
Os filhos de pacientes que usaram paroxetina no terceiro trimestre também apresentaram maior propensão a nascer prematuramente - 20 por cento contra 3,7 por cento no caso de grávidas que não tomaram a droga. Os pesquisadores consideraram fatores que poderiam ter influenciado o risco de complicações, como nascimento prematuro, fumo e cesariana, mas a exposição à paroxetina na gestação ainda foi associada a um risco maior de complicações em recém-nascidos.
Koren disse à Reuters Health que os adultos que interromperam o uso do medicamento se mostraram mais suscetíveis a apresentar os efeitos colaterais da "abstinência" do que pacientes que deixaram de tomar outros antidepressivos. Em outro estudo, filhos de mulheres que usaram fluoxetina (Prozac) ou antidepressivos conhecidos como tricíclicos não apresentaram mais complicações no útero, embora os efeitos das drogas sobre complicações em recém-nascidos não sejam conhecidos.
O porta-voz da GlaxoSmithKline, fabricante da paroxetina, Michael Fleming, disse à Reuters Health que a empresa não realizou nenhum estudo sobre o efeito da droga em recém-nascidos cujas mães usaram a droga na gravidez.
Ele afirma que o rótulo aconselha as gestantes a discutir com os médicos os riscos e benefícios da medicação.
Segundo Fleming, o acompanhamento feito pela empresa desde que a droga chegou ao mercado não apresentou evidências claras de que o remédio esteja associado ao aumento do risco de complicações em bebês. Segundo ele, estudos feitos em animais também não mostraram essa relação.