Logo após o nascimento, os bebês podem apresentar icterícia - um distúrbio que deixa a pele e a região ao redor dos olhos amareladas - como um mecanismo de proteção do corpo contra substâncias nocivas chamadas radicais livres, sugeriu uma nova pesquisa.O organismo dos bebês e dos adultos têm mecanismos de proteção contra os danos causados pelos radicais livres, disse o coordenador do estudo, Salomon H. Snyder, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (Maryland), à Reuters Health. Os resultados do novo estudo sugerem, porém, que muitos bebês obtêm proteção extra proporcionada pelo pigmento amarelado bilirrubina que se acumula no corpo. Esse pigmento age como um antioxidante, mas também provoca uma icterícia leve e deixa a pele amarelada. Os bebês que não apresentam icterícia ao nascer não estão com nenhum problema, alertou o pesquisador. Na opinião de Snyder, os médicos deveriam reconsiderar o tratamento imediato de bebês com níveis ligeiramente mais elevados de bilirrubina no organismo após o nascimento. "Esses dados sugerem que não é necessária muita preocupação" com uma icterícia leve em recém-nascidos, disse Snyder.
A bilirrubina se forma a partir da decomposição de antigas células vermelhas (hemácias) do sangue e de outros componentes do organismo que contêm o grupo químico heme, que faz a ligação com o oxigênio. A icterícia ocorre quando a bilirrubina se acumula no sangue e não é excretada pelo fígado no intestino. Há muito tempo os médicos sabem que o excesso de bilirrubina pode ser prejudicial para os bebês. No entanto, permanecia ignorada a função de um pequeno aumento da taxa sanguínea dessa substância após o nascimento. Em bebês saudáveis, os níveis de bilirrubina podem subir para entre 15e 20 miligramas por decilitro (mg/dL) de sangue na primeira semana de vida, mas a icterícia grave - acima de 25 a 30 mg/dL de bilirrubina - pode causar dano cerebral se não for tratada.
Nos casos graves de icterícia, o tratamento normalmente envolve a fototerapia - exposição do bebê à luz intensa - que transforma a bilirrubina num componente facilmente excretado pela urina. Para determinar a função de um leve aumento na taxa de bilirrubina após o nascimento, a equipe de Snyder reuniu um grupo de células humanas em laboratório e desativou a enzima que sintetiza a bilirrubina. Em seguida, os pesquisadores expuseram as células a radicais livres. Segundo artigo publicado na edição antecipada on-line da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, as células sem bilirrubina sofreram danos e morreram. Entretanto, as células que conseguiram produzir bilirrubina sobreviveram a um aumento de mil vezes na quantidade da substância que produzia radicais livres, usada no experimento anterior.
Snyder explicou à Reuters Health que a bilirrubina é particularmente boa para combater radicais livres no corpo porque ela consegue se reciclar indefinidamente. Os bebês precisariam de níveis mais altos de bilirrubina que os adultos porque o organismo recém-nascido enfrenta mais dificuldade que o corpo adulto. "Não é necessário ser um cientista para imaginar as mudanças radicais que ocorrem na passagem do útero para o ambiente externo", comentou o pesquisador.
A bilirrubina não é um produto à venda, mas pesquisas anteriores sugeriram que níveis extras de bilirrubina - inferiores às taxas consideradas perigosas - poderiam diminuir os efeitos de um derrame e até o risco de câncer e enfarte, disse o pesquisador. Por esse motivo, é razoável pensar que, no futuro, uma pílula capaz de proporcionar aumento extra de bilirrubina também possa ajudar a saúde, observou Snyder.