A Associação Médica Australiana (AMA) divulgou uma declaração na quinta-feira na Conferência Global dos Direitos Humanos da Anistia Internacional, afirmando que o preconceito pode afetar a saúde de gays e lésbicas."Ainda há injustiças inaceitáveis, preconceito, tratamento desigual perante a lei e sérias consequências para a saúde como resultado da homofobia", disse Kerryn Phelps, presidente da AMA federal, durante a conferência.
Phelps ressaltou que, pelo fato de sofrerem discriminação, os homossexuais tendem a procurar serviços de saúde com menor frequência do que os heterossexuais.
Ela observou que lésbicas tendem a submeter-se aos exames preventivos de câncer de colo de útero e de mama menos frequentemente do que as mulheres heterossexuais e também estão menos propensas a fazer exames para detectar doenças sexualmente transmissíveis.
Algumas lésbicas podem usar doadores de esperma que não passaram por exames para detectar doenças porque podem ter o acesso a programas de fertilização "in vitro" negado, acrescentou Phelps.
Os médicos também precisam estar cientes de questões de saúde específicas que afetam transsexuais, afirmou a pesquisadora.
"Os transsexuais masculinos que não têm sua próstata removida após a cirurgia de mudança de sexo ainda correm risco de ter câncer de próstata", afirmou Phelps. "Os transsexuais femininos ainda estão suscetíveis a ter câncer de mama apesar da cirurgia para redução dos seios, bem como a desenvolver câncer de ovário, caso esses órgãos não sejam removidos".
As questões mais importantes concentram-se em torno da relutância dos pacientes em revelar comportamentos sexuais ou relações sexuais, disse Phelps à Reuters Health.
"Gays e lésbicas estão menos propensos a se submeter a exames clínicos de vários tipos, o que leva particularmente a uma maior incidência de câncer e doenças cardíacas", afirmou a pesquisadora. "Há também uma presença maior de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, que não são causados pela homossexualidade, mas, sim, pela homofobia".
Phelps afirmou, durante a conferência, que "problemas de saúde mental estão excessivamente presentes em termos estatísticos na população gay e lésbica durante toda a vida devido à exposição a comportamentos discriminatórios". Ela sugeriu que os "ritos de passagem" vividos por jovens heterossexuais são negados aos gays, incluindo momentos tais como ir à formatura ou trocar o primeiro beijo.
A pesquisadora citou um estudo realizado na Austrália em 1996 que mostrou que mais da metade dos homossexuais masculinos tentou o suicídio. "As pessoas estão sofrendo devido à homofobia. Jovens estão morrendo. Não pode haver desculpas para atrasos em conseguir justiça e respeito aos direitos humanos para todos. A vida depende disso", disse Phelps.
"Foi feita uma ampla série de consultas antes de chegarmos à presente declaração", disse Phelps à Reuters Health. "Acredito que seja um documento muito importante, que a AMA divulgará extensamente junto aos grupos comunitários, escolas de medicina e universidades."