Um novo estudo mostra que cerca de 20 por cento dos tumores detectados por meio da mamografia são do tipo não-invasivo. Isso indica que esses tumores não progrediram além da camada mais externa dos ductos mamários. Uma em cada 1,3 mil mamografias leva ao diagnóstico de tumor não-invasivo, relataram os pesquisadores no Journal of the National Cancer Institute.
Até o momento, porém, os médicos não sabem quantos desses tumores não-invasivos, também chamados de carcinoma ductal in situ (CDIS), continuariam a crescer e começariam a se espalhar, gerando um câncer, observou a coordenadora do estudo, Virginia L. Ernster, da Universidade da Califórnia, em San Francisco. O procedimento normal é remover cirurgicamente todos os CDIS encontrados.Na realidade, "estudos de autópsias mostraram que os CDIS não são raros em mulheres mortas por causas não relacionadas ao câncer de mama", completou Ernster. "Esse fato sugere que alguns casos de CDIS não progridem para lesões clinicamente significativas e podem nunca exigir tratamento durante toda a vida das pacientes."
Por esse motivo, a equipe da pesquisadora concluiu que outros estudos devem avaliar a importância dos carcinomas do tipo ductal in situ detectados por mamografia. Os pesquisadores afirmaram ainda ser necessário desenvolver métodos para identificar se a doença pode progredir e se transformar num tumor maligno.
No trabalho atual, a equipe de Ernster analisou os registros médicos de cerca de 541 mil mulheres, incluindo os resultados de 654 mil mamografias. As pacientes tinham idade entre 40 e 84 anos. Segundo os pesquisadores, a análise dos dados mostrou ainda que as mamografias eram melhores para diagnosticar CDIS do que para identificar cânceres invasivos.
O estudo indica a proporção de CDIS detectados por mamografia, mas esses resultados não devem alterar a maneira de os médicos tratarem esse tipo de tumor, afirmou Emily Conant, professora associada de radiologia e chefe do setor de imagem da mama da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, em entrevista à Reuters Health.
"Há algum tempo, sabemos que a mamografia pode detectar tumores pré-clínicos, que são pequenos demais para serem percebidos pelo exame de toque", disse Conant. "A progressão natural desses tumores varia muito de uma mulher para a outra. Em alguns casos, se não forem tratados, podem não causar nenhum dano. Outros, porém, são altamente agressivos e podem progredir desse estágio inicial para o de disseminação e causar sérios problemas. A dificuldade é que não sabemos quais deles se tornarão agressivos."
Isso significa que algumas mulheres serão submetidas a cirurgias desnecessárias e, em alguns casos, à radioterapia, explicou Conant. Apesar disso, ninguém quer deixar passar despercebido um tumor que se tornará agressivo, completou a especialista.
"Creio que a mensagem é que a mamografia tem melhorado muito ao longo dos anos e estamos encontrando tumores cada vez menores. A mortalidade associada ao câncer de mama vem caindo. Embora não possamos dizer quanto dessa queda se deve à detecção precoce nem qual parcela se deve ao tratamento, minha opinião é não abrir mão desse método de diagnóstico precoce."
A solução final só virá quando os pesquisadores descobrirem um método de distinguir os cânceres agressivos dos tumores essencialmente benignos, disse Conant.