As doenças cardíacas representam uma ameaça muito maior para a saúde da mulher do que o câncer, entretanto as revistas de maior sucesso, as femininas em particular, dedicam mais espaço a reportagens sobre o câncer de mama, revela um novo estudo.Essa disparidade na cobertura, que aumentou ao longo da década passada, pode ser uma das razões para que muitas mulheres superestimem o risco de câncer de mama e subestimem o de problemas cardíacos, de acordo com a coordenadora da pesquisa, Deena Blanchard, e colaboradores.
Blanchard conduziu o estudo quando era pesquisadora assistente na Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York.
Os cientistas calculam que aproximadamente uma em cada oito mulheres nos EUA desenvolverá câncer de mama em alguma fase da vida. Para as doenças cardíacas, entretanto, o risco é três vezes maior - a estimativa é que uma em cada três mulheres norte-americanas terá o problema, indica o estudo.
"É tentador supor que a divulgação excessiva do câncer de mama em relação às doenças cardíacas pelas revistas possa ter um impacto na percepção das mulheres sobre os riscos de desenvolver as duas doenças, o que por sua vez poderia afetar a adoção de comportamentos mais saudáveis e sua obediência às recomendações para que realizem exames preventivos", declarou Dana H. Bovbjerg, da Escola de Medicina Monte Sinai e co-autora do estudo, à Reuters Health.
Os pesquisadores investigaram a presença excessiva de reportagens sobre o câncer de mama nas revistas utilizando um motor de busca na Internet. Eles determinaram quantos artigos sobre a doença e acerca de males cardíacos apareceram em 73 revistas femininas, masculinas, semanais e outros tipos de 1990 a 1999. Os nomes das publicações variavam de "Rifleman" e "Essence" à "Newsweek" e "Vogue".
No total, as revistas apresentavam um total de 697 reportagens sobre câncer de mama ou que mencionavam a doença e 546 textos sobre problemas cardíacos, relatam os cientistas na edição de outubro da revista científica Preventive Medicine. E, como os pesquisadores esperavam, essa diferença entre a cobertura sobre câncer de mama e a dedicada às doenças cardíacas não era apenas evidente ao longo dos dez anos abordados pelo estudo, mas aumentou muito durante aquele período, particularmente de 1997 em diante.
Essa discrepância era mais evidente nas 13 revistas femininas incluídas na pesquisa, as quais apresentaram um total de 286 artigos relacionados ao câncer de mama e 109 artigos dedicados a doenças cardíacas durante o período analisado. Quando os autores excluíram aquelas revistas da sua análise, entretanto, o problema ainda permaneceu evidente. "A disparidade entre a cobertura sobre câncer de mama e (doenças cardiovasculares) pode ser verificada em um amplo espectro de revistas populares", escreveram os autores.
Assim, "os resultados do atual estudo correspondem à possibilidade de que as diferenças na cobertura da mídia possam ser uma fonte das distorções cada vez mais bem documentadas na percepção dos riscos de desenvolver câncer de mama e doenças cardiovasculares", concluíram os pesquisadores. Comentando o estudo, Susan Stewart, presidente do Comitê da Saúde da Mulher da Associação Americana Médica Feminina, disse à Reuters Health que a crença popular é que "as mulheres têm câncer de mama, os homens têm enfartes".
"Provavelmente os editores das revistas populares estão produzindo reportagens sobre o que percebem", afirmou ela. Entretanto muitas leitoras que se preocupam com sua saúde "são muito abertas a aprender mais". Se os editores começassem a publicar mais artigos sobre como prevenir doenças cardíacas e outros males sérios, "Acredito que elas (as leitoras) prestariam atenção", disse Stewart. O estudo foi financiado pelo Instituto Nacional do Câncer e pelo Departamento de Defesa.