Um grupo de pesquisadores neozelandeses descobriu que quase 10 por cento das mulheres que decidiram fazer abortos engravidaram por ter repentinamente parado de tomar um tipo de anticoncepcional oral com medo de seus efeitos sobre a saúde. A coordenadora do estudo, Felicity Goodyear-Smith, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, disse à Reuters Health que essas pacientes pararam de consumir anticoncepcionais orais mais novos, chamados de "terceira geração", quando tomaram conhecimento, por meio de notícias veiculadas pelos meios de comunicação, de que esse tipo de pílula pode causar coágulos sanguíneos, representando risco de morte.
A maioria das mulheres que iniciam o uso da pílula hoje recebe de seus médicos a indicação dos anticoncepcionais de "terceira geração" porque produzem menos efeitos colaterais comuns - como ganho de peso ou dor de cabeça. "Algumas pacientes de baixo risco ouviram notícias sensacionalistas e exageradas a respeito dos riscos da pílula combinada, o que fez com que parassem de tomar o anticoncepcional desnecessariamente e engravidassem sem querer", observou a pesquisadora.
Com base nesses resultados, Goodyear-Smith recomendou que todas as mulheres que gostariam de parar de tomar a pílula consultassem seu médico antes de fazê-lo, "com o objetivo de tomar uma decisão com base em informações corretas e não unicamente motivada por medos gerados pela mídia". Goodyear-Smith e Bruce Arroll, co-autor do estudo, obtiveram suas conclusões a partir da análise dos registros de 400 mulheres que decidiram interromper a gravidez em 1999.
Muitas das mulheres incluídas no estudo disseram ter tomado um anticoncepcional oral combinado, que inclui estrógeno e progestina, uma forma sintética do hormônio feminino progesterona. As pílulas avaliadas eram todas de "terceira geração", indicando que continham uma forma de progestina que parece estar ligada a menos efeitos colaterais do que a usada nos anticoncepcionais orais de segunda geração. Entretanto, na década de 90, pesquisadores começaram a sugerir que as mulheres que tomam essa forma mais nova de pílula podem apresentar uma tendência maior a desenvolver coágulos sanguíneos do que aquelas que tomam as versões mais antigas do anticoncepcional oral.
De acordo com esses autores, a mídia abordou esses riscos de maneira sensacionalista, rotulando os anticoncepcionais de "terceira-geração" de "perigosos". Alguns estudos falharam em diferenciar entre a trombose venosa - formação de coágulo sanguíneo, frequentemente nas pernas - e problemas mais sérios, como enfarte e derrame. Coágulos sanguíneos nos membros, que podem causar dor e inchaço na perna ou outra parte do corpo, podem significar risco de morte se forem transportados até os pulmões.
Muitas mulheres parecem dar ouvidos à mídia, de acordo com o estudo publicado na revista científica Contraception. Os autores descobriram que quase 20 por cento das pacientes que optaram por abortos declararam ter usado uma pílula anticoncepcional oral combinada antes de engravidarem. Entre essas mulheres, quase metade afirmou que havia parado de tomar a pílula devido aos relatos nos meios de comunicação de que estavam sob risco de ter coágulos sanguíneos.
A maioria das mulheres que interromperam abruptamente o uso de anticoncepcionais orais - algumas vezes no meio do ciclo - apresentou menos fatores de risco para desenvolver coágulos sanguíneos do que usuárias que não pararam de tomar a pílula. Em uma entrevista à Reuters Health, Goodyear-Smith atribuiu essa tendência ao fato de que as pacientes sob baixo risco de coágulos podem ser mais conscientes em relação à saúde em geral e assim mais propensas a prestar atenção aos alertas da mídia.
Considerando o efeito que os meios de comunicação podem ter sobre os pacientes, Goodyear-Smith solicitou às agências de notícias que "adotem uma abordagem responsável e não sejam sensacionalistas ou enfatizem demais os riscos detectados na pesquisa com o propósito de ter uma 'boa história"'.
Outra maneira de auxiliar os leitores é apresentar as descobertas dentro do contexto, acrescentou o pesquisador. Por exemplo, "o risco de morte devido a (um tipo de coágulo sanguíneo) durante a gravidez é pelo menos 20 vezes maior do que o risco devido ao uso de pílulas de terceira geração', observou Goodyear-Smith.