Médicos do Estado do Missouri, nos EUA, descrevem o caso de uma garota de 16 anos de idade, aparentemente saudável, que desmaiou repentinamente e morreu após passar uma a duas semanas fazendo uma dieta de emagrecimento rica em proteínas e com poucos carboidratos. Provavelmente a morte foi causada pelo desequilíbrios dos eletrólitos causados pelo regime e o conseqüente dano à função cardíaca. O caso foi relatado um uma edição recente da revista científica Southern Medical Journal.
A jovem não tinha doenças ou outros problemas de saúde. Quado chegou ao Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Missouri, ela apresentava níveis reduzidos de potássio e cálcio, mais provavelmente como conseqüência da dieta. Isso perturbou a função elétrica do seu coração, levando-o a parar.
Nutricionistas especializados e defensores da dieta de Atkins, um exemplo de regime rico em proteínas e com poucos carboidratos, dizem que outras medidas para perder peso, incluindo distúrbios alimentares como a bulimia ou o uso de diuréticos eram causadores muito mais prováveis dos níveis reduzidos de eletrólitos encontrados no sangue da adolescente.
O médico Paul Robinson, co-autor do estudo, disse que, embora possa haver outras explicações para a morte da adolescente, incluindo um ritmo cardíaco anormal, entrevistas com os pais da garota não sugeriram que ela tivesse um histórico de bulimia ou de uso de diuréticos. Robinson é professor assistente de saúde da criança da divisão de medicina de adolescentes da Universidade do Missouri, em Columbia.
"A maioria das crianças e adolescentes com distúrbios de alimentação, mesmo que consigam esconder a bulimia, estão constantemente falando sobre estarem gordos ou precisando perder peso e fazer exercícios", disse. "Pelo que entendi da entrevista com a família da garota, não era o caso de nenhuma dessas coisas".
Collete Heimowitz, diretora de educação e pesquisa na Atkins Saúde e Serviços de Informação Médica, disse que esta dieta tem sido usada por milhões de norte-americanos nos últimos 30 anos, e até hoje não houve casos de reações sérias ou mortes. "As estratégias dietéticas ou práticas que essa adolescente em particular seguiu por dias ou semanas não poderiam ser responsáveis pelo que os médicos estão atribuindo a elas", afirmou Heimowitz.
Ela observou que os níveis químicos irregulares detectados durante a autópsia poderiam ser associados a drogas administradas no atendimento de emergência para ressuscitar a garota ou a outros esforços para perder peso. Robinson discorda. "Eu não acredito que haja qualquer possibilidade de as drogas ressuscitadoras terem afetado o equilíbrio eletrolítico da adolescente", afirmou ele, observando que, quando a garota chegou ao hospital, ela apresentava baixos níveis de potássio.
As dietas muito ricas em proteínas e pobres em carboidratos resultam em uma condição denominada cetose. Na cetose, o corpo já usou sua reserva de energia preferida, o glicogênio, derivado dos carboidratos, e, então, passa a queimar gorduras. Esse processo gera substâncias chamadas corpos cetônicos, que podem ser detectadas no hálito.
Wahida Karmally, porta-voz da Associação Dietética Americana, disse que tais dietas podem causar esgotamento muscular, fraqueza, náusea e desidratação. Elas limitam a ingestão de categorias inteiras de alimentos que fornecem certos nutrientes, como o potássio, explicou. "Esses efeitos podem ocorrer imediatamente", disse a porta-voz.
"Esse conjunto de circunstâncias preocupa quando leva jovens a morrer repentinamente", disse Robinson. "O objetivo mais importante de escrever o trabalho é pedir aos médicos que mantenham seus olhos abertos. Se jovens vítimas de morte súbita chegarem ao hospital e estiverem seguindo esse tipo de dieta, realmente teremos de começar a prestar mais atenção a essa questão", disse.