As pessoas que dedicam atenção à dor de coluna crônica do parceiro - focalizando a atenção na dor, oferecendo água ou fazendo massagem no local - podem, inconscientemente, agravar a sensação dolorosa, mostra um novo estudo. A equipe de Herta Flor, da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, descobriu que pacientes com dor crônica na coluna apresentam atividade cerca de 2,5 vezes maior na região cerebral associada à dor quando seus cônjuges atenciosos estavam no mesmo ambiente do que nos momentos em que os doentes se encontravam sozinhos. Na presença do parceiro, esses pacientes também mostraram mais sinais externos de dor, como gemidos. "Quando se tem excesso de cuidado com a dor crônica, pode-se acentuá-la", disse Flor à Reuters Health.
Por outro lado, comentou a pesquisadora, os pacientes cujos cônjuges pareciam não dar atenção à dor - ignorando ou sugerindo uma atividade para distrair - não mostraram atividade cerebral aumentada em consequência da dor nas costas na presença dos parceiros. A equipe de Flor constatou ainda que os participantes do estudo - com cônjuge atencioso ou não - não apresentaram diferenças na atividade cerebral quando sentiam dor no dedo, região que não é atingida por dor crônica, e os parceiros estavam presentes. Flor explicou que dar atenção aos problemas do parceiro é bom e que as pessoas com esposos atenciosos tendem a ter casamentos mais felizes. No entanto, se deve dedicar atenção a um período de dor intensa e isolada, cuidar dos surtos de dor crônica do parceiro pode apenas piorar a sensação com o tempo.
"Se a dor durar mais tempo, esse comportamento pode agravar o problema", explicou Flor. No trabalho, os pesquisadores mediram as respostas cerebrais dos pacientes à dor por meio de eletroencefalograma (EEG), exame que monitora a atividade cerebral. A equipe de Flor induziu a dornas costas ou nos dedos dos indivíduos.
Para parte dos cônjuges, os pesquisadores pediram que saíssem do quarto, enquanto aos demais pediram para permanecer no ambiente, mas não interagir com o paciente. Em seguida, mediram a resposta cerebral dos pacientes à dor em cada situação.
O estudo incluiu 30 pessoas. Dez dos participantes sofriam de dor lombar crônica e estavam acompanhados de um cônjuge que lhes daria atenção caso sentissem desconforto. Outros dez participantes tinham cônjuges com tendência a não focar a atenção na dor ou a distrair o doente quando este sentir dor. Um último grupo foi formado por 10 pessoas sem dor crônica. Os pesquisadores apresentaram os resultados do estudo no 32o. encontro anual da Sociedade de Neurociência, em Orlando (Flórida). "Se quer ajudar, é bom ser atencioso, mas não é necessariamente uma boa coisa para a dor crônica ser atencioso demais", explicou Flor.
A pesquisadora recomenda aos companheiros de pacientes com dor crônica buscar aconselhamento sobre a melhor maneira de lidar com o sofrimento dos parceiros.