Você já se perguntou por que parece ficar com fome mais rapidamente do que seu amigo mesmo após ter feito a mesma refeição? Ou por que devora mais doces após levar um fora? Pergunte a sua mãe e a seu pai, sugerem as conclusões de um novo estudo.A pesquisadora Veronique Provencher e sua equipe, da Universidade Laval em Quebéc, no Canadá, descobriram que certos hábitos alimentares tendem a "passar de pai para filho". As pessoas que perdem o controle sobre a sua alimentação - atacando um pacote de batatas fritas toda vez que ficam tristes, por exemplo - podem estar mais propensas a ter membros da família que fazem o mesmo, relatam os pesquisadores.
Os cientistas também descobriram que os indivíduos com maior tendência a sentir fome mais cedo ou mais tarde do que outros provavelmente cresceram com pais ou irmãos com a mesma tendência.
Alguns desses hábitos alimentares podem tornar certas famílias mais propensas à obesidade do que outras, afirmou Provencher. Compreender como a família de um paciente come pode ajudar os profissionais da área de saúde a mantê-lo com um peso saudável.
"Temos de ter em mente a possível influência familiar nos comportamentos alimentares", disse a pesquisadora na 85a reunião anual da Associação Dietética Americana (ADA, na sigla em inglês) na Filadélfia, na segunda-feira. A ADA é uma organização profissional representante dos nutricionistas e médicos especializados em dietas dos EUA.
A equipe liderada por Provencher obteve seus resultados em entrevistas com 308 homens e 424 mulheres de 202 famílias. Os autores observaram o quão obesa era cada pessoa e fizeram perguntas a elas sobre certos comportamentos alimentares.
Provencher explicou à Reuters Health que esses comportamentos consistiam em se e como essas pessoas faziam dietas, se comiam em excesso em resposta ao estresse ou a algum fator ambiental e quão facilmente ficavam com fome.
Os pesquisadores descobriram que a semelhança na família - ou a tendência de uma família a adotar o mesmo comportamento alimentar - provavelmente influenciou o fato de os voluntários comerem em excesso em resposta ao estresse e afetou a rapidez com que ficavam com fome. Entretanto os comportamentos familiares não pareciam direcionar as pessoas à dieta ou a certos comportamentos típicos de quem faz dieta, como contar calorias.
O quanto da semelhança dessa família em relação aos hábitos alimentares deve-se aos genes ou a um ambiente comum permanece obscuro, disse Provencher. Entretanto o ambiente definitivamente desempenha um papel importante, observou ela, porque os autores identificaram comportamentos alimentares semelhantes entre casais.
Quando os cientistas computaram a obesidade na análise, entretanto, as tendências familiares a ter certos hábitos alimentares tornaram-se menos influentes. Provencher explicou que, quando se leva em consideração o nível de obesidade, a história familiar parecia afetar apenas a suscetibilidade da pessoa à fome, e nenhum dos outros hábitos alimentares.
Entretanto os hábitos alimentares dos pais podem afetar a probabilidade de a criança se tornar ou não obesa, acrescentou Provencher, o que sugere que a história familiar pode ainda influenciar indiretamente os comportamentos alimentares por meio do seu efeito sobre a obesidade.