O mundo está à beira de um colapso devido ao fato de que a população idosa vai superar a de jovens mais rápido do que se espera, disse um especialista em população. "Ainda há tempo para evitar uma crise", afirmou Richard Jackson, pesquisador da entidade Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, em um relatório para o Citigroup.Ele diz que, com o envelhecimento e a redução da natalidade, os custos da previdência ficam insustentáveis, pois há menos contribuintes, e o mercado financeiro pode virar um caos. Jackson defende o sistema previdenciário em que cada trabalhador custeia sua própria aposentadoria, com depósitos em uma conta pessoal. O problema, segundo ele, atingirá primeiro os países desenvolvidos e depois as nações pobres, mas será mais grave principalmente na China. "Enquanto os países desenvolvidos enriqueceram antes de envelhecer, a China vai envelhecer antes", disse Jackson, citando um autor chinês, Lin Ying.
Jackson nota que nos últimos 50 anos a expectativa de vida deu um salto maior do que nos cinco milênios anteriores, e que isso deveria ser visto não só como uma conquista. Por causa do envelhecimento, ele prevê que em 20 anos a Europa estará encerrando uma década de estagnação e que o Japão terá de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
"O envelhecimento global ameaça quebrar os países desenvolvidos, desestabilizar a economia global e até mesmo romper a ordem geopolítica", disse Jackson em um seminário em Cingapura. "Dentro de cinco a dez anos, a demografia vai mudar, e a janela da oportunidade vai se fechar", afirmou. "Os líderes precisam agir antes que seja tarde." As sugestões dele são que os governos criem empregos para os mais velhos, retardem as aposentadorias e dêem incentivos para as famílias com filhos.
Nos países desenvolvidos, a população com mais de 65 anos representava 15 por cento do total na virada do século, número que deve saltar para 27 por cento até 2050. O Japão, que já tem a maior quantidade de velhos no mundo, deve chegar a ter 35 por cento de idosos. Nos países pobres, os velhos representavam em 2000 apenas 6 por cento da população, e devem chegar a 14 por cento até 2050. A expectativa de vida nos países desenvolvidos, que entre 1950 e 1955 era de 67 anos, subiu para 79. Nos países subdesenvolvidos, o salto foi de 41 para 63.
Jackson citou cinco desafios para o mundo desenvolvido: - O desafio fiscal, com o aumento dos custos previdenciários; - O desafio trabalhista, com uma força de trabalho menor e mais velha; - O desafio do crescimento, com um mercado estagnado; - O desafio financeiro, com a desvalorização de ações e problemas no fluxo de investimentos; e - O desafio geopolítico, com mudanças no poder demográfico e orçamentos de defesa mais enxutos.
Mas o quadro não é totalmente preocupante, disse Jackson. Ficando mais velhos, os países desenvolvidos podem importar trabalhadores dos países pobres, o que gera renda para eles. "O Extremo Oriente é crucial porque é extremamente dinâmico, com uma forte ética no trabalho. A grande incógnita é a China", afirmou.