As meninas são menos propensas do que os meninos a apresentarem transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), mas as que desenvolvem o distúrbio têm mais chances de ser hospitalizadas com problemas mentais durante a vida adulta do que os meninos com o distúrbio, apontam descobertas de um estudo."Apesar do TDAH ser mais comuns em meninos, as meninas com o problema podem ter um resultado mais negativo no estado psiquiátrico na puberdade", disse o líder da pesquisa, o médico Soren Dalsgaard, do Hospital Psquiátrico de Crianças e Adolescentes da Universidade Aarhus, na Dinamarca.
Os pesquisadores analisaram 208 crianças com TDAH entre 4 e 15 anos de idade. Os pacientes foram acompanhados por um período que variou de 10 a 30 anos até que completassem 31 anos de idade.
Cerca de um quarto dos participantes (23 por cento) foram hospitalizados com algum distúrbio psiquiátrico durante o período de acompanhamento, incluindo quase um terço (32 por cento) das participantes do sexo feminino, disseram os cientistas na edição de novembro do British Journal of Psychiatry.
As meninas com TDAH foram duas vezes mais propensas do que os garotos a serem hospitalizadas na vida adulta, indica a pesquisa.
Crianças com o TDAH e com transtorno de comportamento disruptivo - o que significa que elas tendem a desafiar regras - ou algum outro distúrbio de comportamento eram mais de duas vezes mais propensas a serem hospitalizadas na puberdade. No entanto, as meninas com o TDAH e outros problemas de conduta, que geralmente são comuns em meninos com o transtorno, eram seis vezes mais suscetíveis a ter uma internação psiquiátrica do que meninas sem distúrbios comportamentais.
Além disso, as meninas com TDAH tinham quase sete vezes mais chances do que os meninos de desenvolver esquizofrenia durante a vida, mais de cinco vezes mais chances de serem diagnosticadas com um distúrbio de humor e 18 vezes mais propensas a ter um transtorno por uso de substâncias, aponta a pesquisa.
A razão para que isso aconteça "pode ser devido a uma diferença biológica de sexo", suspeita Dalsgaard. "Os garotos podem ser mais vulneráveis a desenvolver o TDAH, mas as meninas que apresentam a condição podem ficar mais vulneráveis do que outras."
Em média, os pacientes do estudo foram hospitalizados pela primeira vez aos 23 anos de idade e eram mais comumente diagnosticados com distúrbios de personalidade, o que contabilizava 30 por cento das admissões psiquiátricas. Problemas com o humor também eram uma causa frequente para as admissões na ala psiquiátrica. As internações variaram de uma a 36.
Dada a prevalência de distúrbios psiquiátricos na puberdade em crianças com TDAH, Dalsgaard disse que um esforço colaborativo é necessário para reduzir o risco de crianças com TDAH, especialmente meninas, serem hospitalizadas devido a problemas mentais quando adultas.
"Todos nós - médicos, pais, professores e profissionais no geral - necessitam prestar mais atenção às garotas impulsivas, impacientes, inquietas e talvez não àquelas que 'correm de um lado para o outro' hiperativamente, porque apenas uma parte delas é identificada para tratamento atualmente", apontou Dalsgaard.
"Uma intervenção precoce especificamente voltada para reduzir problemas de conduta na infância vai diminuir o risco de uma admissão psiquiátrica mais tarde, tanto em meninos quanto em meninas", concluiu o pesquisador.