Cientistas americanos conseguiram dobrar a longevidade de um verme mediante uma modificação genética, evitando os conhecidos efeitos secundários que alteram a capacidade reprodutiva, segundo um estudo divulgado nesta quinta-feira pela revista Science.A técnica consiste em modificar certos genes que regulam a atividade hormonal, comuns a muitas espécies, entre elas o homem, abrindo perpectivas sobre o aumento da longevidade humana, segundo os pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF) que realizaram o estudo.
A técnica, experimentada num pequeno verme de um milímetro de comprimento (Caenorhabditis elegans), muito usado em laboratório, permitiu desativar um grupo de genes em diferentes etapas do animal, para estudar seus efeitos sobre a longevidade.
Os cientistas estudaram os genes denominados daf-2 e daf-16. Em trabalhos anteriores, haviam mostrado que a desativação parcial do gene daf-2 permitiria dobrar a longevidade do verme. Esse gene decodifica um receptor de insulina assim como o hormônio de crescimento.
Outros estudos indicaram a influência deste fator de produção hormonal sobre a longevidade da mosca da fruta e do rato. É também provável que tenha uma importância idêntica no homem.
Este gene afeta também a reprodução. Mas a nova pesquisa mostra que o gene atua de diferentes maneiras em diferentes etapas da vida para controlar a reprodução ou a longevidade, o que permite aos cientistas desdobrar estas duas funções, explicou Cynthia Kenyon, professora da UCSF e principal autora do estudo.
"Muitos biólogos da evolução previram que não se podia aumentar a longevidade sem inibir a reprodução. Mas isso não é verdade. Estes vermes vivem muito mais tempo que o normal e se reproduzem perfeitamente bem. São soberbos e vigorosos", afirmou a pesquisadora.
"À medida que descobrimos novas coisas sobre o funcionamento destes genes e de outros vinculados a eles, esperamos aprender como a juventude e a longevidade podem ser aumentadas no homem, sem os efeitos indesejáveis", continuou.
Sua equipe descobriu que se o gene daf-2 for desativado logo depois do nascimento, os vermes vivem duas vezes mais tempo mas se reproduzem mal. Em troca, se este gene funcionar normalmente até o começo da idade adulta, sendo depois desativado, os vermes têm uma vida prolongada ao mesmo tempo em que se reproduzem com normalidade.
Em 1993, a equipe da UCSF havia descoberto o defeito do gene daf-2, conseguindo, pela primeira vez, duplicar por manipulação genética a vida de um organismo vivo. A duração da vida deste pequeno verme é de 15 dias.