O ator belga Pascal Duquenne, de 35 anos, Palma de Ouro de Melhor Ator no Festival de Cannes, em 1987, pelo filme O Oitavo Dia está fazendo um documentário sobre a vida sexual e afetiva das pessoas que nascem com a trissomia 21. "Eu escrevo e dirijo o projeto que se chama Droit D'Aimer (Direito de Amar)", explica Pascal Duquenne que mora num bloco de apartamentos, em Bruxelas, onde a maioria das pessoas têm Down e os residentes contam com a ajuda de zeladores para qualquer dificuldade no dia-a-dia.
A questão da vivência da sexualidade é, para a presidente da Down Syndrome Association, da Grã-Bretanha, Carol Boys, um dos principais desafios para os que têm a trissomia 21 e para os que os cercam.
"Conhecemos muitas pessoas com síndrome de Down que estão envolvidos em relacionamentos amorosos. Agora, a gente tem que começar a pensar se estes casais querem filhos. Há 20 anos ninguém jamais poderia sonhar que isso iria acontecer. Temos que nos atualizar", alerta Carol Boys.
Limite
Para a arquiteta Helena Werneck, presidente da Sociedade Síndrome de Down, e mãe da adolescente Paula, de 15 anos, os pais têm que se adaptar à nova realidade que cerca as pessoas que nasceram com a trissomia 21.
"A sexualidade existe, a vontade existe e a brincadeira existe. O que a gente percebe nas pessoas com síndrome de Down é esta coisa tão sincera que elas têm. Se elas querem te dar um beijo, elas te dão agora, não esperam para depois".
"A gente vai ter que colocar um limite maior do que com outro filho. Já está começando a haver este movimento mas não vejo os pais tão estressados com isso, não", diz Helena Werneck.
A questão da sexualidade abre caminho para uma discussão polêmica: a da esterilização das meninas.
Helena Werneck não é a favor mas teme que esta seja uma opção para as classes menos favorecidas.
"Eu fico preocupada quando penso nas meninas internadas em hospitais, ou que vivem em bairros menos favorecidos. Há muita maldade por aí... Quando os pais saem de casa, os vizinhos ou parentes às vezes as molestam sexualmente e elas engravidam. O ideal seria optar pelos métodos anticontraceptivos, pois a garotada não é boba. Todo mundo sabe o que é camisinha, acho que não há necessidade de esterilização. Mas os pais têm que encarar de frente o assunto", aconselha Helena Werneck.
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