Comunicar aos pais que o bebê tem uma anomalia, no caso, a síndrome de Down, é um dos momentos mais delicados na vida de um médico e nem todos parecem saber como agir. Somente nos últimos anos, a equipe médica está sendo orientada a dar a notícia aos pais da melhor forma possível, não mentindo sobre a condição, ao mesmo tempo que explicando que trata-se de uma criança como todas as outras, cujo potencial, no nascimento, é um mistério a ser desvendado.
No Brasil, iniciativas como a do projeto "Momento da Notícia", criado pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São Paulo, têm buscado conscientizar profissionais da área sobre a forma mais adequada de falar sobre a chegada de um bebê que tem uma deficiência.
Projetos como este poderão, um dia, eliminar situações como a vivida, por exemplo, pela procuradora da República Eugênia Fávero. Em 1999, ela deu a luz ao seu filho Vinícius, num hospital em São Paulo.
O pediatra dizia que o menino tinha nascido "com um problema" e não falava diretamente que se tratava da síndrome de Down. "Meu médico chegou a dizer que eu tinha sido a primeira paciente dele a ter tido um filho com a síndrome de Down. Quando eu disse que achava que os casos eram mais freqüentes, ele me respondeu: 'Sim, mas nas outras situações, nós descobrimos em tempo'. Só depois entendi o que ele quis dizer com isso. Em tempo de fazer um aborto", conta Eugênia Fávero.
O campeão de Fórmula Um, o inglês Damon Hill, e sua mulher Georgie, também foram avisados de forma traumática de que seu primeiro filho, Oliver, tinha nascido com a síndrome de Down, há 14 anos. "Eles falaram que o nosso filho tinha algo que tornaria a nossa vida bem diferente do que esperávamos", conta Damon Hill.
Os médicos disseram que havia duas opções: ter uma vida difícil ao lado de uma criança que, no máximo, aprenderia a varrer o chão, ou dar o bebê para adoção.
"Nós sentimos que a reação do médico foi a de que algo deu errado em algum momento. Esta é uma maneira horrível de apresentar uma nova vida. Para mim, no final das contas, tratava-se de um bebê, não fazia a menor diferença se ele tinha Down ou não. E Georgie também sentia o mesmo. Eu imagino que os médicos estavam buscando a melhor maneira de dar a notícia mas eles falharam feio. Uma atitude diferente teria nos ajudado a passar pelo choque natural do primeiro momento", disse o inglês em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
A falta de tato dos médicos pode contribuir para a rejeição, temporária ou não, do recém-nascido pelos pais.