BBC Brasil: Como foi a chegada do Rodrigo na sua vida?Sebastião Salgado: Foi como se um trem tivesse passado em cima da gente. Foi totalmente inesperado e muito duro. Acho que ninguém está preparado para isso. A não ser quando você faz a aminiocentese e sabe que uma criança com Down vai chegar, o que não foi o nosso caso.
O drama começou já no primeiro dia. Ele nasceu de cesariana e, normalmente, deveria acompanhar a mãe para o quarto do hospital e não foi o caso. Ficou numa espécie de incubadeira. Quando a Lélia acordou, quis saber onde estava o Rodrigo e se tinha havido algum problema. Respondi que não. Ela tinha certeza que tinha algum problema e fui saber com os médicos. O médico me confirmou que havia algo de errado, disseram que ele era hipotônico, que tinha um traço palmar único e havia, portanto, a possibilidade de ele ter a síndrome de Down.
A partir deste momento, a minha vida mudou completamente. Eu tentei por todas as maneiras justificar que ele não tinha a síndrome, procurei fotos da Lélia que quando era criança tinha um olho meio puxadinho…
Isto levou aproximadamente três semanas até a gente ter a confirmação clínica de que ele tinha a síndrome de Down.
BBC Brasil: E como foi o anúncio da confirmação do diagnóstico?
Salgado: Me lembro que a gente estava fora de Paris, numa casa que não tinha telefone. O médico ligou para uma fazenda ao lado e falou comigo. Tive uma crise de choro. Devo ter chorado umas quatro horas. Ninguém me consolava, a Lélia tentava de tudo... Mas me esvaziei de todas as expectativas.
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