BBC Brasil: E como você viveu com esta nova situação?Salgado: Uma vez, quando ele era pequenininho, fomos ver um médico que fazia uma operação para impedir que a criança ficasse com a língua para fora, uma modificação no céu da boca para acomodar a língua.
Me lembro que estávamos quase chegando na cidade, na Alemanha, paramos o carro, pensamos e voltamos para casa. Era, na verdade, uma solução para resolver o nosso problema. E não o dele.
Até que um dia encontramos a solução. E a solução era entender que ele era o nosso filho e que você tinha que amá-lo profundamente, viver com o problema que não tinha solução e aceitar. Pelo menos no meu caso, levou dois anos para chegar a este nível de maturidade.
BBC Brasil: E como esta aceitação afetou a sua vida?
Salgado: A partir daí a minha vida teve outro sentido, comecei a conviver com um filho que eu amava profundamente e já não encontrava mais, nas outras crianças, uma referência a ele. Comecei a ver que ele tinha capacidades incríveis que os outros, ditos normais, não tinham. Ele tinha a normalidade dele.
A Lélia, muito antes de mim, por ter carregado ele por nove meses, já tinha aceitado o Rodrigo como ele era.
O Rodrigo nasceu com uma série de complicações, inclusive um problema respiratório grave. A Lélia praticamente passou dois anos dormindo sentada com ele no colo, com medo de o Rodrigo morrer. Às vezes ele começava com um problema respiratório às quatro da tarde e às dez da noite a gente estava no hospital com o Rodrigo com pneumonia.
Acho que porque a Lélia teve esta convivência tão forte, tão carnal com o Rodrigo, ela resolveu esta questão muito antes de mim. Mas isso tudo foi só no começo. Ele se acertou na vida também, no lado físico. Neste começo, eu viajava muito por causa do meu trabalho como fotógrafo.
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