O nascimento de Maria Christina fez Dona Stella repensar sua postura como mulher e cidadã e, desde então, ela batalha pela valorização de todas as formas do que ela define como "ecologia humana". "Vejo a Killy como uma peça fundamental na minha evolução como ser humano. Desde que ela nasceu, foi instintivo. Eu nunca quis que ela tivesse uma vida à parte, que vivesse numa redoma de vidro. O mundo é bonito, tem problemas e é de todos, inclusive dela. E acho que ela contribui neste mundo", diz a mãe de Maria Christina.
A síndrome de Down foi a propulsora da reviravolta interna vivida por Dona Stella mas, com o tempo, seu campo de ação extrapolou.
"Comecei a ver que o que era bom para uma pessoa com Down, era bom para qualquer pessoa com problema. Depois eu vi que algo que era bom para alguém que tem algum problema, é bom para qualquer pessoa".
E ela dá o exemplo da educação que ela define como uma das questões mais "complicadas". "Minha visão hoje é de que a escola não é boa para ninguém. Em termos de população, ela deveria ter um percentual diferente de pessoas do bairro. É tão antinatural estar numa escola em que todos têm síndrome de Down. Se você imagina que 10% da população têm uma deficiência, uma diferença, é antinatural concentrar os 10% num local, ou estar numa escola onde estão os 90%", diz Dona Stella de Orleans e Bragança, atualmente uma das mais ardentes defensoras da sociedade inclusiva, onde todos, com ou sem deficiência, têm o mesmo valor como cidadão e não há espaço para paternalismo ou condescendência.
"O conceito da sociedade inclusiva não é uma luta da minoria para a maioria. Para mim, é uma batalha global, pois minoria e maioria deveriam estar de mãos dadas lutando por isso".
"A gente não inventou este movimento (o da sociedade inclusiva), é uma onda gigantesca, um movimento internacional que está surgindo e que não é de hoje. Quem conseguir pegar esta onda agora, vai surfar legal. Quem deixar para depois, pode levar um caldo", alerta Dona Stella.
"Se esses 90% tivessem convivido com o mundo real, ou seja, com os 10%, durante a sua vida, estes 90% que hoje são profissionais, governantes, seriam muito mais atentos, responsáveis e humanos na hora de exercer as funções que hoje têm", explica a arquiteta Dona Stella de Orleans e Bragança que exemplifica como este pensamento é refletido em seu trabalho.
"Um arquiteto estaria, assim, mais ligado na criação de um espaço para todas as pessoas, para os cadeirantes, para os obesos, as crianças... Se a escola tivesse dando conta dos 10%, ela estaria sendo melhor para os 90%", conclui a princesa.
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