O nascimento do meu filho, Francisco, em fevereiro de 2001, foi como um passaporte para um admirável mundo novo. Um universo anunciado, pela maioria desavisada, por suas limitações mas com um mínimo de sintonia fina emocional, a gente se depara é com incontáveis possibilidades.Praticamente só nos últimos 20 anos, a medicina moderna começou a atentar para o fato de que os portadores da síndrome de Down são seres repletos de potencialidades, à espera, apenas, de oportunidades para desenvolvê-las.
Durante todo a produção deste trabalho, fiquei impressionada com a disponibilidade de pais, amigos, parentes, especialistas além dos meus entrevistados que nasceram com a síndrome genética mais comum do mundo a participar desta série de reportagens.
Uma atitude diametralmente oposta da que se tinha no passado quando a grande maioria considerava um motivo de vergonha o nascimento de uma pessoa com a trissomia 21, o termo médico para a síndrome de Down, e o destino dos que tinham nascido com esta condição era quase que inevitavelmente o internamento numa instituição para doentes mentais.
Para esta série, ouvi (e revivi minha própria experiência através dos) depoimentos de vários pais de pessoas que nasceram com a trissomia 21, de especialistas cujos trabalhos considero valiosos por diversas razões e, acima de tudo, as palavras das grandes estrelas deste trabalho: crianças, rapazes e moças, homens e mulheres que nasceram com a síndrome de Down.
Tive a honra de conhecer, pessoalmente, pessoas cujos nomes me foram mencionados logo após o nascimento do meu filho, como exemplos de uma turma que é ativa e respeitada, entre elas os atores Luiz Felipe Badin e Pascal Duquenne.
Apesar de muitas conquistas terem sido feitas, ainda há muitas barreiras a serem vencidas até que as pessoas que nasceram ou adquiriram alguma deficiência sejam olhadas de igual para igual.
Esta trabalho tem o objetivo de contribuir na derrubada do muro, cada vez mais frágil, da ignorância que separa os chamados "normais" dos "anormais".
A série Síndrome de Down é dedicada ao meu filho, Francisco, e a todos que nasceram com Down. Aos que já se foram, aos que estão por aí, e aos que ainda estão para chegar.