Nos últimos anos houve um aumento do consumo de suplementos vitamínicos e minerais que contribuiriam para uma melhoria geral da saúde e contra a prevenção de doenças. Esse interesse levou muitas pessoas, incluindo pais e médicos, a se valer de altas dosagens de vitaminas como uma forma de maximizar o potencial intelectual das crianças com síndrome de Down. Na verdade, a idéia de usar a nutrição para compensar a genética não é nova. O próprio médico John Langdon Down enfatizava a importância da nutrição no tratamento dos deficientes mentais, inclusive do grupo que mais tarde seria identificado como os portadores da síndrome de Down.
Apesar de a medicina ainda não entender completamente como o cromossomo extra no par 21 provoca, em muitos, tendência à baixa imunidade, cardiopatia congênita, problemas digestivos e respiratórios e envelhecimento precoce, há evidências de que os que nascem com Down têm diferenças bioquímicas em relação ao resto da população.
Apesar de ser muito procurada por pais e médicos, a eficácia do tratamento à base de suplementos vitamínicos sobre o rendimento intelectual das crianças que nasceram com trissomia 21 não é uma unanimidade.
Por considerar que todos os estudos feitos até agora não foram conduzidos de forma confiável, a Grã-Bretanha está fazendo, agora, a primeira grande pesquisa sobre o assunto, envolvendo 200 crianças que nasceram com Down e que têm até seis meses de idade.
O maior estudo já feito sobre o assunto no país quer examinar os efeitos de suplementos vitamínicos e ácido fólico na saúde, crescimento e desenvolvimento psicomotor de crianças com síndrome de Down.
A pesquisa é uma iniciativa conjunta envolvendo médicos do Institute of Child Health em Londres e em Birmingham, da Down’s Syndrome Association, da Down’s Syndrome Research Foundation e do Royal College of Paediatrics and Child Health.
Em entrevista à BBC Brasil, a pediatra Jill Ellis, uma das coordenadoras da pesquisa, explicou quais resultados espera encontrar nesta pesquisa.
"Estamos buscando uma variedade de efeitos já que não sabemos exatamente o que vamos encontrar. Estamos pensando no bem-estar geral da criança, em sua saúde, peso, altura e no seu desenvolvimento, sua capacidade de aprendizado e expressão".
Outros fatores que podem influenciar no rendimento da criança também estão sendo levados em conta, como classe social e se ela tem irmãos, por exemplo.
"Já houve estudos assim antes mas com crianças maiores e não se registrou diferença alguma no comportamento ou desenvolvimento delas. Daí um aspecto importante da nossa pesquisa ser o fato de as crianças estudadas serem mais jovens", explica Ellis.
Para este estudo, as crianças foram divididas em quatro grupos que vão receber ou antioxidantes (uma combinação de selênio, zinco e vitaminas A, E e C), ácido fólico, uma combinação de antioxidantes e ácido fólico ou placebo.
Nem os pais, nem os médicos envolvidos na pesquisa sabem a que grupo pertence cada criança que terá sido alocada aleatoriamente.
Os pais ficam responsáveis pela administração das doses assim como registrar diariamente o estado de saúde e o progresso ou não do desenvolvimento intelectual, incluindo ainda o aspecto motor e a fala, de seus filhos.
"Todos os pais querem o melhor para os seus filhos, e os pais de crianças com a síndrome de Down não são diferentes", diz Jill Ellis. "Eles são sempre muito interessados em participar de pesquisas pois sabem que não são só os próprios filhos que vão se beneficiar dos resultados, mas todas as crianças".
Mas a médica salienta a necessidade de se ter cautela quanto ao uso de vitaminas assim como de substâncias que prometem acelerar a função cerebral.
Segundo Jill Ellis, o advento da Internet permite a circulação de muitas informações que não são necessariamente confiáveis.
"Não há, pelo menos ainda, evidências de que qualquer um destes tratamentos possa trazer uma cura milagrosa. Contudo, queremos acreditar que exista algo que possa ajudar as crianças com Down a se desenvolver melhor", diz Ellis.