Solly Boussidan/Especial para o Terra
Direto de Yerevan
Dos países do Cáucaso, a Armênia é provavelmente aquele com os quais os brasileiros estão mais familiarizados. Nosso País abriga uma vigorosa comunidade de descendentes de armênios e personalidades como a atriz Aracy Balabanian e o jornalista José Gasparian são famosos em todo o Brasil. O bordão “vou por tudo isso na chón”, criado por Aracy Balabanian, quando, em 1990, interpretou a personagem Dona Armênia, na novela global Rainha da Sucata, ainda é escutado comumente.
Apesar do nome do país ser familiar, poucas pessoas têm, entretanto, uma ideia clara das maravilhas e preciosidades que este pequeno país do Cáucaso reserva aos turistas. A Armênia de hoje é apenas uma fração do que um dia já foi um grande reino, que se estendia por grande parte da atual Turquia, Irã e outros pontos do Cáucaso. O século XX foi brutal com o país e sua população – um genocídio até hoje não reconhecido por muitos países perpetrado pelos turcos otomanos dizimou 1,5 milhões de armênios em 1915. Duas guerras contra a Turquia reduziram o território do país a menos de 20% de seu tamanho original e a incorporação à União Soviética, seguida da independência na década de 1990 e uma nova guerra – desta vez contra o vizinho Azerbaijão – fizeram com que a população do país encolhesse. Hoje em dia, há mais armênios vivendo no exterior do que no país.
O mais surpreendente é que apesar da história trágica, os habitantes do país continuam com a cabeça erguida, orgulhosos de suas raízes milenares, otimistas e – acima de tudo – calorosos e hospitaleiros com os visitantes. Não se espante se após uma conversa de 15 minutos com um armênio você já esteja sendo tratado como membro da família e convidado para jantares, festas e casamentos.
Quer mais motivos para visitar o país? Acrescente então o fato de a Armênia ter sido o primeiro país a adotar o cristianismo como religião oficial no ano 301, décadas antes da Roma antiga. Esta rica tradição pode ser vista em todos os cantos do país, onde igrejas e monastérios com a excepcional e delicada arquitetura da Igreja Ortodoxa Armênia pode ser observada – a espiritualidade sentida em capelas iluminadas por velas e com forte cheiro de incenso é emocionante.
A natureza local também é deslumbrante – lagos cristalinos rodeados por montanhas, cidadezinhas alpinas com chalés de madeira, além de vales verdejantes pontilhados por pessegueiros, macieiras, cerejeiras e árvores de apricot e romã floridas, que exalam um cheiro adocicado e mágico. Há ainda canyons multicoloridos, montanhas cobertas de neve com estradinhas que passam acima das nuvens, lagoas de águas termais, um dos maiores teleféricos do planeta, florestas de pinheiro e áreas semidesérticas que parecem se fundir com o horizonte.
Turistas urbanos e apreciadores de cultura certamente não se desapontarão com a capital do país. Yerevan, conhecida como a cidade cor-de-rosa, é a mais soviética das capitais do Cáucaso. Apesar de a cidade reter muito da sem-graça arquitetura dos anos socialistas, a grande diferença aqui é que as construções utilizaram pedras-tufo que deixaram a cidade inteira colorida em tons rosa e violeta. Yerevan possui uma infinidade de bons bares e uma cultura de cafés que rivaliza cidades como Roma ou Paris. A cidade é toda decorada por parques, belas esculturas, prédios grandiosos e dezenas de fontes. Além disso, os museus e galerias de arte da cidade estão entre os melhores do Cáucaso.
Por fim, apreciadores de conhaque certamente ficarão entusiasmados com a possibilidade de provar diversas variedades da bebida, que é o produto nacional por excelência e está entre os melhores do mundo. Segundo relatos oficiais, o estadista britânico Winston Churchill dizia que não havia melhor conhaque do que o armênio – mais uma excelente desculpa para vir ao país e comprovar se ele estava certo.