A visão de uma cidade industrial que recebe os viajantes que desembarcam no Aeroporto Borispol de Kiev é ligeiramente intimidadora e, felizmente, bastante distante da realidade dos que visitam a capital da Ucrânia. Basta alguns minutos caminhando pela avenida Khreshchatyk e pela praça Nezalezhnosti – marcos centrais de Kiev – para se perceber a riqueza arquitetônica local.
Ladeando a avenida estão belos arcos, casarões em estilo georgiano e construções anteriores à Revolução Bolchevique. A região abriga hoje em dia lojas de grife como Armani, Prada e Swarowski, mas também há mercados populares por pequenas ruelas de paralelepípedo escondidas atrás dos monumentos e arcos. Aos finais de semana, a avenida é fechada ao tráfego motorizado e festivais de dança, de esportes e mercados populares tomam conta do centro da capital.
Fundada há mais de 1600 anos, Kiev foi controlada por Vikings, Corsários, Eslavos e Soviéticos – toda essa confluência histórica ainda é visível nas construções locais. A poucos quarteirões da Praça Nezalezhnosti, que mistura o modernismo de cúpulas de vidro, com a arquitetura em bloco comunista do legendário Hotel Ucrânia e símbolos nacionalistas como a famosa estátua do anjo dourado, protetor da pátria, está o Portão Dourado, que remonta à Idade Média.
Dois quarteirões mais ao sul, passando por alamedas repletas de casinhas típicas da Europa Oriental, trazem o visitante aos complexos monásticos de Kiev e sua arquitetura ortodoxa, com domos dourados e detalhes ovalados. O contraste com os prédios modernos e aço e vidro é estarrecedor e causa deslumbramento. Ao lado fica o prédio do Ministério das Relações Exteriores do país, em estilo neoclássico, exibe uma enorme bandeira ucraniana e outra, do mesmo tamanho, da União Europeia, deixando claro, para incômodo dos vizinhos russo, quais as aspirações nacionais.
A poucos quilômetros de distância, o rio Dnieper cruza Kiev e dá – mais uma vez – um novo tom a capital. Ladeado por áreas verdes, praias e ilhotas, barcos trafegam calmamente por suas águas e funiculares relembram que a Ucrânia foi uma das mais importantes repúblicas soviéticas por quase 70 anos. O maior testamento desta época está no Museu da Grande Guerra Patriótica – um museu a céu aberto, onde o visitante é lançado de volta aos anos comunistas. Entre tanques e equipamentos de guerra – alguns pintados com flores coloridas por crianças, murais de pedra talhada retratando as guerras travadas pela URSS, e prédios cinzentos, ladeados por placas em russo com nomes das principais cidades da antiga superpotência, destaca-se a figura colossal de uma mulher erguendo uma espada e um escudo com o brasão soviético – a representação máxima da pátria ucraniana.
Aos pés da estátua, o hino pós-independência aparece em uma placa e anuncia “A Ucrânia ainda não está morta”. Basta olhar ao redor, a partir deste excelente mirador, para ver o Dnieper, bosques e uma das cidades mais cativantes da Europa se estendendo até o horizonte para se ter certeza que nada mais coerente que a inscrição.
Foto: Getty Images