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Shakespeare
Apaixonado fatura sete prêmios
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Na 71ª cerimônia de
entrega do Oscar, a Academia mostrou que continua a mesma: premiou o óbvio.
A entrega do Oscar de melhor filme estrangeiro para A
Vida É Bela, depois de toda a campanha da Miramax, era mais do
que evidente. O filme ainda levou outros prêmios, mas não teve cacife
para superar Shakespeare Apaixonado
com seus sete Oscar - melhor filme, atriz, atriz coadjuvante, roteiro
original, figurino, direção de arte, trilha sonora em comédia.
A comédia de John Madden superou o prestígio conquistado
por O Resgate do Soldado Ryan com um roteiro engenhoso, cheio de
citações das obras do bardo e com boas doses de romance.
A escolha de Gwyneth Paltrow como a melhor atriz foi a escorregada do
ano, mas não foi a única.
Roberto Benigni arrasou os bons concorrentes de língua inglesa conquistando
o Oscar de melhor ator. É o primeiro estrangeiro a conquistar o prêmio
não falando em inglês. Premiar
Benigni foi um erro grotesco da Academia, ao ignorar as interpretações
magníficas de Ian Mc Kellen em Deuses
e Monstros, de Nick Nolte, em Temporada de Caça,
e de Edward Norton, em American HistoryX. Em um caso inequívoco
de "a vida imita a arte", as reações histriônicas
do diretor italiano ao ouvir suas premiações foram incrivelmente
parecidas com os exageros do personagem Guido. Um show de interpretação.
Jim Carrey afastou o tédio da festa ao subir ao palco imitando
o italiano e fingindo chorar por não ter sido indicado. Ganhou
a noite.
Os prêmios menos
badalados, como o de ator e atriz coadjuvantes, foram para quem se esperava.
Judi Dench, como a rainha Elizabeth I, em Shakespeare Apaixonado,
e James Coburn, como o pai tirano de Temporada de Caça, eram os
mais cotados em suas categorias, desde que as indicações foram anunciadas.
Com elegância, Judi ainda brincou com o tempo irrisório em
que aparece na fita, apenas oito minutos. Ao menos, a Academia se redimiu
por não ter reconhecido a atuação da atriz inglesa
em Sua Majestade, Mrs. Brown. Quem sabe no ano que vem Lynn Redgrave,
sua concorrente em Deuses e Monstros,
terá também seus 15 minutos de reconhecimento tardio.
O Oscar especial concedido a Elia Kazan
gerou emoção e polêmica. Além dos protestos de rua, houve os que aplaudiram
de pé, os que olhavam para os lados, e os que ficaram sentados
em suas poltronas simplesmente olhando Kazan receber o seu prêmio, como
Ed Harris e Nick Nolte, de braços cruzados. Escoltado por Martin
Scorsese e Robert DeNiro, Kazan agradeceu a coragem da Academia e saiu
logo depois. Steven Spielberg apresentou a homenagem póstuma a
Stanley Kubrick, morto por causas naturais no dia 7 de março, com
a exibição de cenas de seus filmes.
O diretor canadense Norman Jewison - de Agnes de Deus, Jesus Cristo
Superstar e Feitiço da Lua - recebeu o prêmio Irving
Thalberg com uma mensagem muito aplaudida, apesar de ser a antítese
de tudo o que a Academia representa: "não façam filmes
pensando em bilheterias. Contem uma boa história, façam
filmes que provoquem risos e lágrimas."
(Cássia Borsero/Agência RBS)
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