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BARRIL DE PÓLVORA

RAPIDINHO

O filme é sobre a guerra. Mas não sobre uma guerra específica e bem delimitada, com soldados, mísseis e porta-aviões nucleares. "Barril de pólvora" é uma crônica da guerra do ser humano contra si mesmo. Guerra travada com ódio mortal, sem qualquer atenção à convenção de Genebra. Vale tudo. A luta acontece dentro das casas, nas ruas, nos táxis, nos ônibus, e é travada por pessoas comuns. O sérvio Paskaljevic fez um dos filmes mais assustadores da história do cinema, porque mostra, dentro de cada um de nós, um soldado nascido para matar, que espera o momento de sua missão assassina.


AGORA COM MAIS CALMA

Barril de Pólvora tem várias contra-indicações. Quem quer apenas se divertir, por exemplo, deve esquecê-lo. Também não é adequado para pessoas sensíveis e um pouco (ou muito) deprimidas. O mundo apresentado nesse filme realmente não vale a pena. Suicidas em potencial, fujam desse filme!

Por outro lado, pessoas muito alegres, entusiasmadas com a vida (enfim, pessoas muito odara) igualmente precisam manter distância de "Barril de pólvora". Por quê acabar com toda essa inocente alegria? Continuem vendo TV domingo à noite, toda aquela programação maravilhosa! Mas não é esta uma das esquecidas funções do cinema - acabar com nossos sonhos?

Enquanto o "Star Wars" brinca de criar um universo regido pela moral, pela oposição do bem e do mal, "Barril de pólvora" mostra nossa amoralidade, nossa quase bestialidade, nossa incapacidade total de conviver sem gerar violência e muita dor.

Ô, filmezinho desgraçado, que começa como quem não quer nada, seguindo um táxi na noite de Belgrado. Noite que não acaba nunca, que dura a eternidade dos 100 minutos do filme, que não oferece a esperança do sol porque o sol, pra nascer, precisa de alguma justificativa. E não há justificativa, nem culpa, em "Barril de pólvora".

Como nos filmes de Altman, há uma profusão de personagens que se cruzam, uns jogando a bola do enredo para o outro, sem grande preocupação com a costura. Para um mundo em farrapos, não há costura possível.

Um motorista de táxi, um policial quase paralítico, dois homens que lutam box, dois jovens inconseqüentes e à beira da marginalidade, um homem atrás da ex-mulher (que abandonou há muitos anos), um motorista de ônibus, os passageiros desse ônibus, um contrabandista viciado em cocaína, uma jovem viúva de um jovem soldado morto, etc. Um monte de gente tentando escapar da noite interminável. Nem todos eles conseguem. Mas pelo menos morrem de uma vez, em vez de continuar sofrendo.

"Barril de pólvora" é um grande filme. Transcende (como só conseguem as verdadeiras obras de arte) o episódio que narra, as pessoas e os lugares que cria, deixando em seus espectadores um mal-estar existencial. Mas o filme não deixa de ser belo, assim como é bela "Guernica", de Picasso, assim como é belo "O grito", de Munch. Assista e depois tome dois ou três doses, em homenagem aos inocentes, que ainda esperam o sol nascer.


Barril de Pólvora
(Iugoslávia, 1998). De Goran Paskaljevic

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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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