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O SEXTO SENTIDO

RAPIDINHO
O diretor/roteirista é indiano, e o diretor de fotografia chama-se Fujimoto, mas "O Sexto Sentido" é um filme americano tradicional, de corpo e alma. Não há qualquer preocupação em inovar na linguagem, nem na forma de realização, nem no orçamento. Saudavelmente, a primeira e grande preocupação é surpreender o espectador, a partir de uma história bem trabalhada, com um final interessante (mas não tão empolgante quanto o de "O Suspeito da Rua Arlington", ainda o campeão de finais de 99, e muito longe do de "Seven", campeoníssimo de 98). Bruce Willis emprestou seu nome a um filme legal e mostrou que sabe ler um roteiro (ou tem agentes que sabem). Provavelmente deseja escapar do monte de convites para porcarias de ação e morre de inveja por não ter feito "Matrix". Pena que Bruce Willis não tem talento suficiente para convencer como psiquiatra infantil e leva um banho de interpretação de Haley Joel Osment, o menino com quem contracena.
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AGORA COM MAIS CALMA

"O iluminado" e "O exorcista" são os filmes mais lembrados pelos que comentam "O sexto sentido", e há uma boa dose de razão para isso. Em "O iluminado", Jack Nickolson tem um desequilíbrio mental mais que evidente; em "O exorcista", Linda Blair, antes de cair nas mãos dos padres, está nas mãos dos psiquiatras; em "O sexto sentido", o garoto parece ser um psicótico. Resumindo: o terror, num primeiro momento, não está no sobrenatural, e sim nas profundezas da mente humana, lugar desconhecido, escuro, sórdido e geralmente perigoso. Isso causa uma imediata identificação do público com os personagens, pois mesmo os espectadores não-místicos reconhecem a doença mental como algo real e ameaçador. Ponto para os roteiristas.

A questão da vida após a morte (que é também a questão da existência de Deus e de seu oposto, o Diabo) fica para um segundo momento, quando todos já estão imersos no universo narrativo. Para o meu gosto, bom mesmo é o terror de "O bebê de Rosemary", em que a questão mística vai sendo adiada até o final e não chega a ser plenamente respondida. Esta, aliás, é a maior fragilidade de "O sexto sentido": tá tudo explicadinho demais, bonitinho demais, moralizado demais. Mas o suspense, temos que admitir, é de boa qualidade, lembrando bons momentos de Hitchcock e mantendo uma tensão permanente, que vai se acentuando no final. Mas há algumas outras fragilidades.

A resolução do problema do menino que vê os mortos, a partir do encontro com a menina que vomita (mais um ponto de contato com "O exorcista": a mesma tonalidade de verde), é rápida demais. Cria-se uma outra história terrível, dentro da história principal, e não há tempo de aprofundá-la direito. O drama daquela família funciona como um apêndice e não está diretamente ligado aos personagens, o que o torna um pouco artificial. E por quê aquela menina não entregou a fita enquanto estava viva? Por quê não contou tudo ao pai assim que descobriu a sacanagem? Respostas nas cartas da semana que vem.

Quanto ao final, cantado em prosa e verso, e que, é claro, não posso revelar aqui, é realmente engenhoso e amarra bem a história. Mas a verdadeira força de "O sexto sentido" é a atuação do ator-mirim Haley Joel Osment. Seus olhos, sua expressão corporal, a maneira como interpreta os diálogos, tudo é de primeira qualidade. Ele empresta total verossimilhança ao personagem. Sentimos medo porque ele realmente sente medo. É um grande intérprete. Já bem maior que Bruce Willis. E, se mantiver seu talento, sua saúde e sua sanidade depois da adolescência (escapando da "síndrome Linda Blair/Drew Barrymore"), em breve o veremos arrasando saudavelmente outros colegas de profissão. Usando apenas os bons e velhos cinco sentidos. Até mais.

O Sexto Sentido (The Sixth Sense, EUA 1999). De M. Night Shyamalan

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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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