Busca

Pressione "Enter"

Cobertura completa Sites de cinema Grupos de discussão Colunistas Os melhores filmes Notas dos filmes Todos os filmes Roteiro de cinema O que está passando no Brasil





Por Ricardo Cota

TARZAN

Quem duvidar, confira nas telas.  O melhor do cinema americano, hoje, revive graças a um tipo de produção que até meados da década de 80 parecia condenada ao esquecimento:  os desenhos animados.  Primeiro foi o gênero musical, que morreu no início dos anos 50 para nunca mais.  Pelo menos até aparecer A Pequena Sereia, em 1989. Ou seria O Corcunda de Notre Dame?  Ou O Rei Leão? Apenas para citar três clássicos da animação que tiveram o mérito de reconciliar o público com o escapismo, a fantasia e a fluência só encontráveis nos grandes filmes musicais. A maior prova do sucesso desse revival está no fato de que o melhor de todos os novos desenhos, na opinião deste crítico, inverteu um caminho até então normalmente percorrido pelas peças da Broadway. 

A Bela e a Fera só ocupou um dos palcos da Times Square depois de ter atingido êxito absoluto nas salas de exibição. Agora, com a estréia de Tarzan, chegou a vez do gênero aventura ganhar uma injeção de vitalidade através do desenho animado. Basta comparar duas recentes produções, o pastiche A Múmia e o reciclado A Ameaça Fantasma, para sentir como os gênios da animação ultrapassaram, e muito, os técnicos dos efeitos especiais. Tarzan não perde jamais o fôlego. Da primeira à última sequência, os olhos do espectador permanecem grudados na tela. 

O roteiro adapta com dinâmica moderna, ou seja, palatável para a geração adepta ao frenesi dos vídeo games, a aventura concebida por Edgar Rice Burroughs. Os elementos principais estão lá. A crise de identidade do homem criado entre os animais que sente dificuldades em se reconhecer nos semelhantes, o carinho pelos bichos e o desprezo em relação aos colonizadores, os verdadeiros vilões da história. A mensagem ecológica em nenhum instante se sobrepõe à trama, repleta de perseguições, desafios, lutas e conflitos. 

O Tarzan animado transforma-se numa espécie de surfista das selvas, que desliza por galhos e cipós com uma agilidade irresistível. Algumas sequências, como aquela em que protege Jane do ataque de macacos selvagens, são um verdadeiro espetáculo de virtuosismo técnico, lançando o espectador num fantástico universo de espirais hipnóticas dignas de uma montanha-russa. Isso sim é diversão.  

Apenas a música, ponto forte dos desenhos precursores, não corresponde à grandeza do filme.  As canções de Phil Collins estão completamente dissociadas da atmosfera jungle do desenho. São apenas temas soltos, sem integridade narrativa. 

Por outro lado, a dublagem brasileira mais uma vez merece todos os elogios. Menos pelos surtos vocais de Ed Motta do que pelas inflexões dos atores e até por algumas tiradas impagáveis da tradução, como no momento em que o elefantinho vira para o macaco e diz: “até quando você vai continuar pagando mico?”. Depois de dar nova vida aos musicais e agora aos filmes de aventura, resta saber qual será o próximo desafio dos desenhos animados. Sugestão: que tal enveredar pelo terreno da ficção científica?  O gênero bem que anda precisando de uma lufada de inventividade.

Tarzan (EUA, 1999). De Chris Buck, Kevin Lima

Ricardo Cota, 33, é crítico de cinema do Jornal do Brasil há oito anos, com passagens pelas revistas Cinemin, Set, Tabu, Cinema e IstoÉ, além do jornal O Dia. Foi autor dos cursos Bergman/Woody Allen: Dois Cineastas Face a Face; Huston/Coppola: Os jogadores; e O Cinema Cantado, Breve História dos Musicais.

Índice de colunas


Copyright © 1996-1999 ZAZ. Todos os direitos reservados. All rights reserved.