Quando você topar com um tipo inflamado, ou de pavio tão curto que vai explodir em resmungos - ou tiradas engraçadas - antes mesmo de ser apresentado, nem precisa perguntar (polidamente, como faria qualquer outro habitante do zodíaco) "mas qual é mesmo o seu signo?". O camarada só pode ser um ariano.
Atenção, porém: há quase tantos arianos tímidos quanto empolgados. Porque um ariano, para fazer jus ao bicho que o tem simbolizado por milênios - um carneirinho - é também meio retraído. Fica sem-graça por qualquer coisa, principalmente com elogios, e pode sumir repentinamente de uma festa se não encontra ninguém da mesmo tribo.
Assim, se há tantos arianos atirados (mesmo que o tiro saia meio gauche) quanto ensimesmados, o teste definitivo será checar seu grau de teimosia. Todo bom ariano, por ser o primeiro representante do zodíaco, é também o mais impulsivo e obstinado dos doze: Seu lema é: agir primeiro, pensar depois.
Mas experimente questionar a inconsistência de seus motivos. Ele vai olhar para você como um terráqueo provavelmente observaria um marciano: mas é claro que ele sabia exatamente porque agiu assim e assim, e é claro que ele tem absoluta certeza de que este é o único modo de se fazer as coisas, e é óbvio que ele jamais pensaria de outra maneira... até mudar de idéia, ou, melhor dizendo, de impulso.
Conclusão: um ariano nunca será monótono, desde que você tenha versatilidade e fôlego suficientes para acompanhá-lo. Além do mais, ele sempre será um tipo bem-intencionado, sem qualquer malícia.
DOENÇAS:
É sensível a doenças e ferimentos na região da cabeça, principalmente olhos, cérebro e face. As congestões, febres, convulsões e inflamações são os distúrbios típicos arianos, podendo ocorrer mesmo em outras áreas do corpo. Cuidado também com acidentes por excesso de velocidade. Essas perturbações tornam a ariano irritado, tímido, ansioso, desconfiado, chegando à apatia e à fadiga após o mínimo esforço, com perda da clareza de raciocínio.
TERAPIAS:
Sendo jogo rápido, ele vai se dar bem com qualquer uma. Um ariano não é aquele que fica escarafunchando o pedigree do seu terapeuta, ou tem de ler os três tomos da obra completa de Freud para depois se decidir sobre se topa ou não uma primeira consulta. Ele quer é resultados imediatos, no que, aliás, demonstra admirável bom senso. Como, em geral, as crises nervosas e existenciais do ariano não têm origem em traumas edipianos, mas num ataque de fúria em que ele vê tudo vermelho (muitas vezes, com absoluta razão), a técnica psicoterapêutica mais indicada é um bom karatê, judô ou box, no mínimo duas vezes por semana.
A realidade rapidamente retomará seu colorido real. Nada tai-chi ou yoga. Acordar às seis da manhã para treinar graciosos e lentos movimentos de tai-chi com o mestre, sob frondosas árvores do parque da cidade, pode ser uma boa para o pisciano, mas para áries só tornará o mundo ainda mais vermelho-congestionado, e numa hora singularmente imprópria. Quanto a permanecer meia hora sentado em posição de lótus, praticando a hatha-yoga, isso só levaria o ariano direto a uma ambulância, com um ataque apoplético.
No caso de o ariano só arranjar uma academia de karatê ou judô extorsivamente cara, ou com horários de matinê, ou infinatamente longe de casa, resta-lhe uma saída barata e doméstica: o punching-bag, isto é, encomendar um saco de areia revestido de plástico, pendurá-lo no banheiro, e trancar-se lá por meia hora, diariamente, quando chega do trabalho. Com este módico método, conflitos familiares, empregatícios e emocionais serão dissolvidos em quinze minutos.
Para as arianas, recomenda-se fazer pão: sovando a massa com toda força de que seus bíceps são capazes, ela sublimará o ímpeto de aplicar uma sova de pirralhos de casa, ou no camarada que sempre deixa as roupas espalhadas naquela trilha do hall (gravata), à sala de estar (paletó), quarto de casal (meias e sapato) e banheiro (o restante). A família inteira sai ganhando, e passa a disputar não entre si, mas o maior bocado de pão no jantar. Um curso de cerâmica também é recomendável para aquelas arianas que não são muito chegadas ao forno e fogão. Amassar argila, em vez de amassar o pára-lama do vizinho, é mais barato e instrutivo, e pode, inclusive, render uma carreira artística internacional, quem sabe com exposições de ícones semi-destroçados, na Documenta Kassel ou Bienal de São Paulo. O duro, para essas arianas premiadas com talento para esculturas, vai ser aguentar quietinhas, paradas de pé no mesmo lugar, só ouvindo conversa mole, os vernissages e coquetéis que se seguirão.
Textos de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicados no livro Use e Abuse do seu Signo, editado pela LP&M.
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