É muito fácil reconhecer um leão em público: basta localizar o pavão do pedaço, que você chegou nele. Ele estará abrindo e fechando seu leque emplumado, com um ar teatral e levemente superior, hipnotizando a platéia e esperando condescendente por aplausos. Seus gestos são largos e suntuosos, sua fala tem pausas dramáticas e ele pronuncia várias vezes "eu", "me", "mim", "comigo" - um leão nunca deixa de anunciar que a idéia genial foi dele, e graças ao talento ímpar dele o projeto grandioso (dele) finalmente saiu. O mais insólito é que ninguém vai achá-lo pomposo ou antipático: ao contrário, todos continuarão magnetizados por tanta realeza natural. Pois o egocentrismo leonino não tem nada de mesquinho. O leão é até pródigo demais: um rei que paga banquetes, empresta o carro e dinheiro de olhos fechados e arranja colocação para todos seus conhecidos, só esperando dos agraciados o devido reconhecimento e devoção eterna.
No coração do leão cabe todo mundo - o que lhe causa, às vezes, aborrecimentos inesperados. Sua majestade, com toda aquela pose, é um tremendo ingênuo, e vive na ilusão de que tal o mundo é uma extensão das virtudes leoninas, e seus contemporâneos são réplicas motorizadas dos cavaleiros da Távola Redonda. É aí que o leão quebra a cara. Mas nem assim abaixa a juba - ele é orgulhoso demais para ficar remoendo as mesquinharias do dia-a-dia, que encara como meros acidentes de percurso. Sua falta de objetividade é diretamente proporcional ao otimismo narcisista: todo leão está convencido de que o sol se levanta para ele, não por motivos astronômicos.
Portanto, ame-o ou deixe-o. E se você se decidir pela primeira hipótese, ganhará uma fera em lealdade para o resto da vida. Porque, ao contrário do astro que rege este signo, o Sol, o leonino não brilha sozinho. Depende de alguém para conseguir irradiar luz - e isso ele reconhece. Sem um refletor que amplie e aperfeiçoe sua auto-imagem, ele não passará de um empoeirado e gasto leão de tapete.
DOENÇAS:
Doenças no coração, na coluna vertebral e na aorta. A hipertensão, o excesso de vitalidade e o desgaste pela excitação constante são alguns reflexos que podem aparecer no leonino.Essas perturbações alteram a vitalidade, tornando o leonino indisposto a esforços mentais e físicos.
TERAPIAS:
Ele imagina ser Napoleão Bonaparte? Vai ver que é mesmo, já que escolheu outro leonino para trocar de identidade. Um leão nunca adotaria um personagem de segundo escalão, se tivesse que endoidar de vez. Ele, aliás, endoida muito raramente, mas pode ser levado às raias da locura se deixar de ser o centro de atenções. Procurará um terapeuta, portanto, não para ouvir diagnósticos, mas para ter garantida, duas vezes por semana, um audiência bem atenta - e, se possível, silenciosa. Os analistas ortodoxos falam pouco, e isso os tornaria a audiência perfeita para o leonino, mas o problema é que estão sempre insistindo para que o paciente conte histórias tristes e traumáticas, derrotas sofridas, choques não superados. Leão nenhum vai querer saber disso: ele foi até o consultório para confessar, sim, mas seus grandes feitos e qualidades, e com isso talvez amolecer o empedernido coração do anlista.
Como analistas não se enternecem jamais, a terapia correta para o leonino é o psicodrama. Lá estão reunidos todos os requisitos para uma cura rápida e eficaz: palco, platéia e grandes chances de conquistar o papel principal. Os leoninos deveriam, inclusive, ser pagos para freqüentar as sessões de psicoterapia, em vez de pagar - sua presença sempre garantirá um alto dinamismo no ambiente, obrigando até os mais tímidos do grupo a entrar em cena.
Se o leonino estiver duro demais para arcar com os custos de um profissional diplomado (o que ocorrerá com freqüência, dada sua magnamidade com dinheiro), pode solucionar suas habituais crises de melancolia numa única sessão: convidando para jantar aquele amigo que vai elogiá-lo a noite inteira, sobretudo depois do cafezinho, quando o leão puxar a conta e disser "deixa comigo". Aconselha-se, porém, um restaurante que não ultrapasse duas estrelas, senão a crise pode piorar.
Textos de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicados no livro Use e Abuse do seu Signo, editado pela LP&M.
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