Rio - "Ele vai me matar, ele vai me matar!" Foi assim que a estudante de Direito Renata Carla Moura Alves reagiu ao ser questionada sobre suas denúncias contra o técnico da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, segundo as quais ele a utilizava para a compra de bens em leilões de forma irregular, para escapar do pagamento de impostos. Renata disse à Agência Estado, por telefone, que sua vida "virou um grande inferno" desde que começou a receber ameaças de morte de Luxemburgo, há cerca de dois anos.
A estudante move ação trabalhista contra o treinador, reivindicando o pagamento dos encargos referentes ao período de quatro anos em que esteve a serviço de Luxemburgo, de 1993 a 1997. Além disso, sua explicação à Polícia Federal de que o treinador depositava quantias vultosas em sua conta para a compra de bens leiloados motivaram uma investigação da PF nas transações financeiras de Luxemburgo.
Durante toda a tarde desta quinta-feira, Renata manteve contato com o pai, o advogado Roberto Carlos Baptista Alves, que permaneceu em seu escritório, no centro do Rio, tentando convencer a filha a conversar com a imprensa, para dar mais detalhes sobre supostas irregularidades cometidas por Luxemburgo: uma delas referia-se à participação do treinador na compra e venda de jogadores. "Ela tem informações nesse sentido, mas não posso falar sobre isso sem o seu aval."
Para Roberto, o "esquema" envolvendo negociação de jogadores seria "uma prática comum, corriqueira" na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Num dos telefonemas de Renata, Roberto emocionou-se e fez um desabafo à filha. "Se você levar um tiro, eu estarei na frente, sou seu pai, seu amigo", disse. Em seguida, Roberto contou que Renata não consegue dormir há pelo menos dois dias e tem medo de sair de casa, por acreditar que Luxemburgo seria capaz de articular um "atentado". "Ela está apavorada, chora sem parar, está desesperada", continuou.
O pai afirmou que o treinador e a estudante mantiveram um romance durante quatro anos. "Eu sempre a alertei de que isso não daria certo." De acordo com o seu relato, Renata reclamava que Luxemburgo era grosseiro e até a humilhava em algumas situações. "Mas ela jamais recusava um pedido dele para uma viagem decidida horas antes."
Renata disse ainda, num dos telefonemas ao escritório do pai, que pedira proteção à Polícia Federal do Rio, em 1998, por causa de eventuais ameaças de Luxemburgo. A PF carioca negou que o pedido houvesse sido feito.
As denúncias contra o treinador estão em curso no Ministério Público Federal e a procuradora Lilian Gulhon Dore vai decidir na próxima semana se oferece ou não denúncia contra Luxemburgo.
Segundo Roberto, sua filha sempre considerou Luxemburgo como um "gênio", por acreditar que o treinador conhecia tudo de futebol e era insuperável em sua função. "Foi levada pelo encantamento." O advogado afirmou que Renata e Luxemburgo se conheceram em 1993, num coquetel na sede da CBF.