Spa-Francorchamps - Elas são bem mais discretas do que as conversas entre pilotos e chefes de equipe. As negociações envolvendo a transferência de projetistas tornaram-se quase secretas e seus valores ultrapassam, por vezes, às das contratações de bons pilotos da Fórmula 1. Apesar do desmentido da Ferrari, sexta-feira, não há quem não acredite que os italianos não tenham mesmo feito uma oferta milionária para Adrian Newey, o atual diretor-técnico da McLaren. A escassez desses profissionais supervalorizou aqueles de comprovada capacidade.
"Se fosse empresário, preferiria administrar a carreira de engenheiros-projetistas à de pilotos", diz Gerhard Berger, diretor-esportivo da BMW, sócia da Williams. Jean Todt, que exerce a mesma função na Ferrari, classificou como falsa a informação de que sua escuderia ofereceu US$ 12 milhões por ano para Newey desenhar os carros da Ferrari a partir de 2002. A verdade é que Newey tornou-se hoje o Michael Schumacher dos projetos. "Acho normal a Ferrari oferecer tanto dinheiro a Newey; ele é capaz de dar o dobro em lucro para uma equipe", afirma Pat Simons, diretor-técnico da Benetton.
"Aqui tudo é negócio, paga-se muito porque o investimento permite um retorno ainda maior", complementa Simons. Curiosamente, os colegas de Newey, engenheiro aeronáutico inglês de 40 anos, são unânimes em afirmar que, sozinho, ele não representa nenhuma garantia de sucesso de um time. "Até há dez anos poderia ser, mas agora, com a ultra-especialização técnica da F-1, ele precisa de um grupo de elevado nível com ele", diz Leo Ress, da área de projetos da Sauber.
Essa especialização vem sendo citada como uma das causas de a F-1 não ter gerado outros desenhistas de elevada competência. "Eles saem da universidade e vão trabalhar apenas naquilo que gostam ou lhes é designado, falta-lhes uma visão global do carro", analisa Simon.
"Enquanto a aerodinâmica continuar sendo o fator mais importante no desempenho do carro, Newey permanecerá dando as cartas", observa Berger. "É a sua grande especialidade." A falta de engenheiros capazes de desenvolver eficientes monopostos transformou esses técnicos em profissionais tão bem pagos quanto os pilotos. Em 99, a Jordan ficou em terceiro entre os construtores. O diretor-técnico do time irlandês, Mike Gascoyne, acabou contratado a peso de ouro pela Benetton. Comenta-se que receberá cerca de US$ 3 milhões por ano. "A F-1 perdeu o controle sobre investimentos nos projetistas, os valores tornaram-se irreais", diz Ress.