São Paulo - Estão sendo despachados hoje os documentos que irão impedir que o volante Ferrugem, do Palmeiras, seja inscrito pelo AIK no Campeonato Grego.
Os últimos detalhes da defesa do clube paulista foram traçados no leito do quarto 419 do Hospital Santa Catarina. Internado às pressas por conta de uma crise de hérnia de disco, o ex-presidente do Internacional de Porto Alegre, Paulo Rogério Amoriti, se mostra muito otimista.
Advogado especialista em legislação esportiva internacional, Amoriti foi contratado para retomar o jogador de 19 anos que foi `sequestrado' por empresários. Revoltada, a diretoria palmeirense quer que Amoriti use o que for preciso para transformar o caso em exemplo para os empresários que assediam seus jovens atletas. Até processar o clube grego em R$ 600 milhões.
"A defesa está muito bem fundamentada. Vamos mostrar que empresários não podem convencer jogadores a abandonar clubes brasileiros. O AIK, se quiser ter o Ferrugem, precisará pagar. E pagar bem, nada de quantias irrisórias.
Já estou com todas as provas que mostram seu vínculo com o Palmeiras. Elas chegarão no meio desta semana na Fifa. Vamos mostrar que a legislação brasileira precisa ser respeitada", diz, indignado, Amoriti.
Legislação A estratégia palmeirense é detalhada pelo advogado. "O AIK entrou com um pedido de registro do jogador alegando que o contrato acabou e o Palmeiras não mostrou interesse em renová-lo. Só que, por falta de informação sobre a legislação do nosso país, os gregos não sabem que como o Ferrugem jogou na Seleção Brasileira, seu contrato é prorrogado automaticamente. O contrato do volante não terminou na prática no dia 28 de junho, mas ele está em vigor até o dia 17 de outubro. Fora isso, os dirigentes do Palmeiras tentaram procurar Ferrugem várias vezes, só que ele preferiu não se manifestar e viajou para a Grécia. Provaremos que ele abandonou o Palmeiras. Tanto é assim que a proposta palmeirense de renovação está registrada na FPF. Os empresários europeus vão aprender a respeitar os clubes brasileiros."
O ex-presidente do Internacional tem várias vitórias contra tentativas de sequestros de jogadores. A que mais se orgulha aconteceu em 1992 com Christian.
"Ele era a grande promessa dos juniores do Inter. Dirigentes do Marítimo o levaram para jogar lá. Não queriam pagar nada. Recorri a Fifa e o atacante teve de voltar ao nosso clube. Não adianta tentar levar vantagem, todos as equipes seguem a legislação da Fifa. Ninguém será enganado. Se quiserem o Ferrugem que o comprem."
A principal ameaça ao AIK é mesmo um artigo na legislação internacional. Ela obriga o clube que sequestrar um jogador a pagar uma multa de cem vezes o valor que o passe do atleta está estipulado. No caso de Ferrugem, a FPF registra seu preço: R$ 6 milhões. Se o AIK perder o processo pode ser obrigado a pagar R$ 600 milhões.
"Esse é um argumento muito forte que usaremos se for preciso. A lei está do nosso lado. Poderemos brigar por isso. Não estamos querendo tirar dinheiro de ninguém, só que os jogadores do Palmeiras pertencem ao clube e para defender outra equipe precisam ser comprados. O Ferrugem terá de ser devolvido ou o AIK pagar o quanto o presidente Mustafá Contursi achar um preço conveniente."
Documentos Ontem, Paulo Rogério Amoriti não conseguia nem colocar os pés no chão por causa das dores na coluna. Mas os médicos do Hospital Santa Catarina asseguravam que ainda nesta semana ele poderá andar e até viajar de avião para Zurique, sede da Fifa.
"Primeiro estou enviando os documentos. Depois, posso ir para Zurique com o presidente Mustafá. Acredito que dentro de 10 a 20 dias a Fifa já terá dado a sua decisão. Ele não poderá ser inscrito normalmente no Campeonato Grego como os empresários estão pensando. O pior que pode acontecer para o Palmeiras é o Ferrugem jogar sob licença especial no AIK. Mas depois da sentença confirmada, ou a Fifa o mandará de volta para o Palmeiras ou então fixará um preço justo para os gregos pagarem. Os empresários vão aprender que não estão lidando com pessoas que não conhecem a lei", diz, irritado, Amoriti.