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Beijo transforma o brasileiro em Brisbane
Sabado, 02 Setembro de 2000, 01h46

Brisbane - Um simples gesto - um beijo - e o potiguar Ewerton Cortez, de 25 anos, teve a Austrália aos seus pés. O jovem estudante de inglês, nascido em Natal, deve consolidar em breve a permanência em Brisbane por mais uma temporada. Seu visto já estava expirando, mas aí surgiu uma bola de futebol e, com ela, novas perspectivas. Tudo mudou na vida de Ewerton, o único brasileiro que disputou este ano a Liga de Futebol da Austrália pela Segunda Divisão.

Formado em informática pela Universidade Potiguar (UNP), Ewerton chegou ao país em abril e matriculou-se no South Bank Institute of Tafe, em Queensland. Sabia que teria de voltar ao Brasil até dezembro. Conseguiu convencer a direção da escola sobre seu talento como atacante e recebeu um convite para treinar no Mitchelton, o mais tradicional clube amador de Brisbane.

O resultado não poderia ter sido melhor. No começo, Ewerton foi aspirante no Mitchelton: fez seis gols em seis jogos. Numa partida, o presidente do clube chegou a deixar a tribuna do estádio para cumprimentar o brasileiro, tal o entusiasmo por sua atuação. Logo depois, Ewerton firmou-se como titular do time principal. Na estréia, marcou um gol de cabeça e seu time derrotou o inexpressivo Gap por 4 a 0. O lance, em si, foi normal; o que aconteceu depois, não.

Aclamação - Ewerton correu em direção à bem-comportada platéia australiana e beijou o escudo do Mitchelton. Não esperava que um gesto comum no Brasil tivesse alcance tão grande no outro lado do mundo. Os torcedores levantaram-se e a começaram a aclamá-lo. Alguns desceram a arquibancada para abraçá-lo. "Eles me disseram depois que jamais poderiam imaginar que um brasileiro viesse um dia a beijar a camisa do seu clube de coração."

No mesmo dia, no vestiário, Ewerton surpreendeu-se com a brincadeira dos colegas: todos imitavam seu gesto triunfal. O Mitchelton, último colocado no campeonato de 99, encerrou a disputa este ano em segundo lugar. Na festa de comemoração, o craque de Natal foi chamado ao microfone pelos dirigentes do clube para receber uma camisa com autógrafos de todos os outros jogadores do Mitchelton.

O agradecimento pelo presente foi interrompido pelo grito ensurdecedor de 300 pessoas: "Kiss!, Kiss! (Beija! Beija! Beija!)." Não teve escolha. Seu visto será prorrogado.

O Estado de S.Paulo


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