Ashmore, Austrália - Por essa nem Wanderley Luxemburgo esperava. Depois de conseguir convencer os jornalistas brasileiros que não iria comentar as acusações de negociar jogadores, sonegar impostos e falsificar a idade em documentos durante a Olimpíada, o técnico da seleção foi atormentado pela imprensa internacional.
Logo na primeira entrevista coletiva, Luxemburgo foi surpreendido pelo bombardeio de questionamentos feitos pela imprensa internacional, entre os quais japoneses, italianos e australianos, sobre sua situação com a Justiça no Brasil. Ele até que procurou manter a calma quando a repórter Vikki Orvice, do jornal inglês local The Sun, perguntou-lhe sobre eventuais problemas no passaporte, em decorrência de um suposto erro na data de nascimento.
Luxemburgo respondeu que não falaria sobre assuntos não-referentes aos Jogos e como Orvice insistira, Lemos pediu que ela se calasse. "Não amola", reagiu o assessor do treinador. Pouco depois, a representante da agência de notícias AP (Associated Press) na Austrália tomou a palavra para uma curta e cáustica pergunta. "Sua idade, por favor?" Luxemburgo, desta vez surpreso, teve alguma dificuldade em articular a resposta. "Minha idade? Vim aqui para falar de futebol e não sobre a minha idade."
Além do desagradável “interrogatório”, as primeiras horas de Luxemburgo com a equipe olímpica na Austrália foram marcadas por muita tensão e um festival de trapalhadas da comissão técnica da seleção. Para começar, o zagueiro Fábio Bilica, que teve sua chegada anunciada para esta terça-feira em Ahsmore, não apareceu e ninguém sabia ao certo quando ele viria. Mais tarde, houve um mutirão em defesa de Luxemburgo e até o meia Alex fez um apelo aos jornalistas para que evitassem questionar o treinador sobre problemas pessoais.
"Peço isso em nome de todos os jogadores", disse o capitão da equipe. O assessor de Imprensa Carlos Lemos deixou claro que Luxemburgo só responderia a perguntas relativas a Olimpíada e liberou os jogadores para dar entrevistas após o treino, ainda em campo. A decisão não foi acatada pelo fisioterapeuta Luís Rosan. Ele interrompeu a conversa de Alex e Ronaldinho com os repórteres e até os policiais de Queensland entraram em ação para levar os atletas ao vestiário.
Tudo isso após um jogo-treino de 60 minutos contra o modesto Gold Coast City, formado por médicos, estudantes e professores, em que os titulares, ainda sem a dupla da seleção principal, venceram por 6 a 0 (gols de Geovanni (2), Lucas (2), Edu e Mozart).
Desde que chegou à Austrália, Luxemburgo tem adotado um comportamento atípico. Visivelmente abalado com as denúncias que surgem a cada momento no Brasil - de que teria sonegado impostos e estaria envolvido na compra e venda de jogadores e na falsificação de documentos -, ele parece acuado, quase não sorri e procura estar sempre ao lado de Lemos e do consultor-técnico Candinho, seus fiéis escudeiros e de quem recebe repetidos gestos de solidariedade.