Porto Alegre - Eles não são, exatamente, amigos. Pelo contrário. A rivalidade de confrontos tensos dos tempos em que Wanderley Luxemburgo treinava o Palmeiras e Luiz Felipe Scolari, o Grêmio, deixou marcas impossíveis de se apagar.
Apesar disso, Luiz Felipe, há dois meses residindo em Belo Horizonte, onde treina o Cruzeiro, não deixa de defender o desafeto Luxemburgo, que tem sido mais notícia, ultimamente, por problemas não relacionados a suas decisões como comandante da Seleção Brasileira.
Luxemburgo é acusado por sua ex-secretária Renata Carla Moura Alves de, no cargo de técnico de clubes, ter tirado vantagem financeira em transações envolvendo atletas de seus times. Além disso, a revista Época denunciou que o treinador da Seleção, quando jogador, adulterou a data de nascimento em seus documentos. Luiz Felipe, porém, não considera esses fatos graves a ponto de abalar o cargo de Luxemburgo na Seleção.
´´Acho um absurdo total dar-se tanta ênfase a isso sem que se prove com algum documento. Se ele estivesse no Tuna Luso, Paysandu ou no nosso Interior gaúcho, ninguém estaria procurando se ele tem 52, 55 ou 48 anos´´, afirma Luiz Felipe.
O técnico do Cruzeiro considera correta a decisão de Luxemburgo de não levar o atacante Romário, 34 anos, para a Olimpíada de Sydney, que começa na próxima semana. Mas também faz uma pequena crítica ao treinador por não incluir Dida na relação de goleiros:
´´ O Brasil só cometeu um erro. O Dida é um jogador de uma experiência fantástica e deveria estar na Olimpíada. Os goleiros que estão em Sydney (Fábio Costa e Hélton) não dão a mesma segurança que o Dida daria à defesa.´´
Já perfeitamente adaptado à nova vida em Belo Horizonte, o treinador do Cruzeiro não deixa de lado antigos hábitos. Na véspera do jogo contra o Inter, recebeu a visita de um velho amigo na concentração da Toca da Raposa. O padre Pedro Bauer, 53 anos, viajou 400 quilômetros desde Passos, no interior mineiro, para rever Luiz Felipe. O padre Pedro, como é chamado na intimidade, é uma espécie de talismã do técnico, a quem acompanha desde 1991, quando a carreira do técnico começou a decolar com o título da Copa do Brasil pelo Criciúma. No Palmeiras, chegou a viajar no ônibus da delegação, algo raro dentro do esquema altamente profissional dos clubes de hoje, que impede pessoas de fora da comissão técnica de se aproximarem dos jogadores.
Padre Pedro começou a dar apoio espiritual aos jogadores do Cruzeiro e aproveitou para matar a saudade tomando um chimarrão ao lado do amigo. Neste momento, Luiz Felipe, constrangido, foi obrigado a virar a bomba na cuia para trás na hora da foto, quando percebeu que havia trazido de casa uma personalizada, com um brilhante distintivo do Grêmio à mostra.
´´Era a única que eu tinha – apressou-se em justificar, com uma gargalhada. – Mas o Inter também já me enviou uma´´, completou em seguida.