Sydney – Apaixonado pelo futebol brasileiro, o técnico do Marconi Stallions, Eddie Krncevic, de 40 anos, é uma daquelas figuras românticas do esporte. No seu time ele cortou ao máximo os “chuveirinhos” para a área, prática que os australianos herdaram dos ingleses. “O jogo é bola na grama, de pé em pé”, ensina. A modalidade conhecida como “futebol australiano”, disputada com bola oval, times de 18 atletas e no qual um gol vale seis pontos, também não lhe agrada.
“Esse é o único jogo no qual quem perde gol marca ponto”, critica, referindo-se ao ponto extra que o time ganha se a bola sair por uma zona delimitada próxima à trave.
A presença da seleção brasileira é considerada pelo treinador a possibilidade de proporcionar aos seus jogadores a oportunidade de jogar um futebol mais técnico. “O futebol no Brasil é uma religião”, afirma. Ele já avisou aos atletas para entrar com cuidado nas bolas divididas. “O time brasileiro é muito técnico, não podemos correr o risco de machucar ninguém.”
Filho de sérvios, Krncevic conhece bem o futebol brasileiro. Ex-jogador do Anderlecht, da Bélgica, nos anos 80, ele lembra de detalhes da seleção brasileira de 1982, de jogadas de Zico, Falcão e Cerezo, muitos dos quais enfrentou como jogador. Solidário com o colega Wanderley Luxemburgo, acredita que o cargo de treinador da seleção brasileira talvez seja o mais penoso emprego do País. “A pressão é muito grande.” Krncevic, porém, não entende como Luxemburgo pôde abrir mão da experiência e categoria de Romário.
O time que dirige reflete bem a situação do futebol australiano. A maioria dos atletas é descendente de italianos, iugoslavos, libaneses, coreanos e argentinos. O campeonato da liga é disputado por 16 clubes e os Stallions, que realizam pré-temporada, não sabem o que é comemorar um título há cinco anos. As dificuldades, porém, não o abatem. Uma de suas maiores alegrias no esporte foi um encontro com Pelé, há 15 anos, numa visita do rei do futebol a Melbourne.
Krncevic ficou extasiado. Tirou fotos. Ao chegar em casa, pálido, olhos arregalados, assustou a mulher. “O que aconteceu, você viu um fantasma?”, ela perguntou. “Vi Deus; estive com Pelé”, respondeu.
O Estado de S.Paulo