Agência Estado

Guga e o técnico Larri Passos durante a entrevista

Florianópolis - No Dia da Independência, Gustavo Kuerten deu um presente aos brasileiros e para ele mesmo já que completa 24 anos no domingo: anunciou que vai disputar a Olimpíada de Sydney, aumentando as chances do Brasil ganhar mais medalhas. "Estou na melhor fase da minha vida e pronto para ir e dar tudo que tenho", comemorou o tenista. Ele saiu da entrevista coletiva em Florianópolis, que começou às 11h15 e durou pouco mais de meia hora, e foi direto arrumar as malas para a viagem desta sexta-feira: "Estou louco para embarcar", dizia eufórico, agradecendo: "Foi a força do povo que me colocou nas olimpíadas, a força da opinião pública."

Na briga entre Diadora e Olympikus, prevaleceu o bom-senso. Para Guga, foi o inconformismo dos brasileiros, gerado pela intransigência das duas marcas, que motivou o acordo. Na sua opinião, o assunto interferiu muito no País e no esporte brasileiro, mostrando a importância da Olimpíada e a força do seu nome. Por isso, ninguém se conformava com a decisão dele não ir para os Jogos. O tenista entrará em quadra com um uniforme neutro e, se subir ao pódio, receberá medalha com a roupa oficial do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), já que essa é a regra.

Até acontecer o acordo, Guga viveu alguns dos piores dias de sua vida, vendo um sonho se desfazendo. Lembrou da decisão que precisou tomar anteriormente, de não ir a Sydney. Sentiu-se encurralado, porque enfrentaria complicações, qualquer que fosse sua decisão. "Foram dias difíceis, fiquei numa posição bastante delicada. Num dia acordei achando que ia para as olimpíadas e no outro não ia mais."

Guga fez questão de defender seu patrocinador, dizendo que, se hoje ele é um sucesso, deve isso à Diadora. "Não sou de deixar ninguém na mão, de subir e deixar de lado as pessoas que me apoiaram. Num momento como esse, não deixaria um amigo de lado."

Apesar da situação, Guga acredita que não houve desgaste na sua imagem. "Todo mundo que me encontrava na rua vinha me dar a maior força; senti muito carinho, senti a força do povo." Para ele, o que importa agora é que o saldo de todo esse processo foi positivo: "Estou nas olimpíadas e isso que é importante."

Ele acha que já provou diversas vezes seu patriotismo, como quando jogou mesmo estando com câimbra, na Copa Davis, porque estava representando o Brasil.

Com os cabelos puxados e amarrados, vestindo moleton amarelo com a logomarca da Diadora e calça preta de agasalho, Guga terminou a entrevista dizendo que tudo que conseguir em Sydney vai ser em função do povo brasileiro. "Vou me sentir orgulhoso quando chegar lá". Ele se considera bem preparado para os Jogos e disse que tentará trazer mais medalhas para o Brasil. Agora é torcer para que ele pegue adversários fáceis no começo da competição.

Durante esses dias difíceis na vida de Gustavo Kuerten, ele teve ao seu lado as presenças constantes do técnico Larri Passos e da família, todos presentes na coletiva desta quinta-feira. Bem-humorado, Larri chegou vestido de 7 de Setembro: nos tecidos da camisa e do gorro, estampas alusivas à bandeira do Brasil.

Segundo Larri, seu grande trabalho nesses dias, muito além do treino, foi tentar afastar da cabeça de Guga qualquer sentimento de culpa. Para o treinador, o episódio serviu para uní-los ainda mais. Larri aproveitou a oportunidade para agradecer a postura do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, por ele ter procurado uma solução.

A mãe de Guga, Alice Kuerten, chegou abraçada ao filho e ficou ao lado dele durante toda a coletiva. "Quem é que não gostaria de ter um filho na Olimpíada?", dizia orgulhosa. E também aproveitou para mais agradecimentos: "Quero agradecer a força dada por todo o povo brasileiro. A gente sentiu o quanto o Guga é querido." Dona Alice não vai para Sydney. Torcerá de Florianópolis para o filho.