Rio - Mesmo depois da decepção pelo fim do sonho olímpico, Romário ainda tem planos para a Seleção Brasileira. Primeiro, caso seja convocado por Wanderley Luxemburgo, quer atingir o segundo posto entre os maiores goleadores da Seleção Brasileira. Ele está com 62 gols, cinco a menos que Zico.
E acha que dá para superar a marca do desafeto nos próximos três jogos das Eliminatórias, contra Venezuela, em Maracaibo, contra a Colômbia, em São Paulo, e contra o Equador, em Quito.
Depois, ainda que ele não fale abertamente, no fundo dá para sentir que o Baixinho quer jogar mais uma Copa do Mundo.
“Se o Milla jogou com 42 anos em 1994...”, referindo-se ao atacante da seleção de Camarões.
Os planos são de parar daqui a dois anos, exatamente quando terminará o Mundial do Japão e da Coréia. Pelo sim, pelo não, ele já prepara seu sucessor, pois o filho Romarinho, de sete anos, já disse que quer ser jogador e, segundo o pai coruja, tem o seu estilo.
Abaixo, você confere a conversa que Romário teve antes do jogo contra o Peñarol, pela Copa Mercosul.
Você acha que, hoje em dia, você é o único jogador que desequilibra no futebol brasileiro?
Romário: Em clube, não, têm vários jogadores que desequilibram. Na seleção, eu acho que o Ronaldinho desequilibra também. Ele é excelente, tem tudo para chegar a melhor do mundo.
Os próximos três jogos da seleção serão contra adversários teoricamente fracos. Só faltam cinco gols para você passar a marca do Zico. Dá para fazer isso neste três próximos jogos das Eliminatórias-2002?
R: Dá, mas depende da minha condição. E, em primeiro lugar, o Wanderley tem que me convocar para estas partidas. Também depende da condição do time nos dias dos jogos. Gol para mim é a coisa mais fácil de se fazer no futebol. É a minha motivação, sei que os gols que faço pelo Vasco e pela seleção fazem com que o povo tenha momentos de felicidades. Isso é gratificante.
Você já disse que pretende jogar pelo menos por mais duas temporadas. Coincidentemente, se seguir este plano, você pára logo depois da Copa de 2002. Seria um novo objetivo, se aposentar ganhando o penta?
R: Tenho contrato por mais um ano e meio, renovável por mais um. Em princípio o objetivo seria cumprir este objetivo, e aí eu pegaria a Copa. Mas depois da decepção da ausência da Olimpíada não faço mais plano a longo prazo. Eu vou jogando e as coisas vão acontecendo.
E os planos de parar aos 28 anos? Antes você dizia isso por que não era um apaixonado pelo futebol ou hoje você ainda está em campo por que está mais fácil jogar?
R: Quando eu falava isso, estava no Vasco, no fim dos anos 80., e jogava com o Roberto Dinamite, que já tinha mais de 30 anos. E vi fazerem coisas com ele lá que não queria para mim. Eu me colocava no lugar dele, que ouvia várias coisas tendo ainda plenas condições de jogar. Mas hoje sem dúvida é bem mais fácil jogar do que naquela época. Antes havia jogadores de futebol, hoje há corredores de futebol. Essa é a diferença.
Falando em aposentadoria, depois dos três gols contra a Bolívia você deu a camisa ao seu filho. Ele será o seu sucessor?
R: Eu gostaria muito que o Romarinho continuasse levando o nome da família para frente, mas a decisão é dele. Ele diz que quer. E gosta de futebol, leva jeito para a coisa.
L!: E como ele é em campo? Parece com o pai?
R: Ele atua no ataque e gosta do jogo, está sempre pedindo a bola. Como eu fazia quando era moleque. De vez em quando, fica parado lá na frente, coçando a cabeça, que nem o pai (risos).
L!: Falando de novo de seleção, o que você achou das declarações do Edmundo, que afirmou que se você fosse para a Olimpíada ele também iria pedir para ir?
R: O problema dele é que há anos que só fala. O Edmundo vem demonstrando que tem talento, é um bom jogador, mas na seleção não arrumou nada. Eu peço, mas na hora de vestir a Amarelinha faço o meu papel e até hoje ele não fez. Eu passei dois anos ouvindo muita coisa, respondendo até com certo respeito. Mas eu cheguei a conclusão que eu respeito quem me respeita. Independente de quem seja. Quem não respeita, recebe o mesmo. Também tem alguns colunistas que ficam me criticando, mas eles têm as opiniões deles e eu tenho as minhas. Não posso ter? Agora é assim: porrada de lá, porrada de cá.
O que acha de ele dizer que você dá beijinho pela frente e é capaz de dar punhalada pelas costas?
R: Esse rapaz é doente da cabeça . Só torço para que ele melhore. Recalque é a pior coisa no mundo. Para encerrar o assunto Edmundo, ele teve a chance dele, eu dei, e ele não pegou. Agora, vai ficar sempre em segundo plano em relação a mim.
Você era o dono do Flamengo, na seleção também é assim. E no Vasco?
R: Eu tenho o meu espaço no Vasco, mas vários outros jogadores têm também. Eu tenho consciência de que ainda não consegui conquistar definitivamente a torcida do Vasco. Já não é o caso do Juninho, que é querido por todos. Mauro Galvão, Helton também. Eles conseguiram isso com trabalho e estou fazendo o mesmo. Eu só exijo da torcida do Vasco o mesmo que faço por eles, que é um tratamento com respeito. Em relação a conquistá-los, eu vou sempre tentar, mas se não conseguir, não consegui.
Por que você acha que não conquistou a torcida vascaína até agora?
R: Os torcedores têm seus motivos para ficarem com o pé atrás, afinal eu fiquei cinco anos do lado de lá. Muitas coisas aconteceram. Talvez eu tivesse a mesma pulga atrás da orelha. Mas todos podem ter certeza de que visto a camisa do Vasco e dou tudo por ela.
Você afirmou em outra ocasião que não é ídolo de uma torcida só. Você reparou que, no jogo do Brasil, uniu as torcidas de Vasco e Flamengo em um só grito?
R: Eu reparei, por isso falo que meu objetivo não é jogar para uma só torcida. Mesmo com a camisa do Vasco, sei que há torcedores de outros clubes torcendo por mim. E com a camisa do Brasil sempre recebo muito carinho, de todo o povo brasileiro.
O que você tirou de lição da sua conturbada saída do Flamengo?
R: Quando te sacaneiam, você não aprende nada. Eles acharam que fazendo isso não iriam me pagar o que devem, mas se ferraram. Vão pagar de uma forma ou de outra.
O que representa hoje o Flamengo para você. Tem saudades?
R: Não, é só mais um adversário. Passei cinco anos lá, vesti a camisa deles como visto a do Vasco hoje. Sem mágoa alguma.
Quais são os grande favoritos para a conquista da Copa João Havelange?
R: No momento, as equipes que estão na frente não são as favoritas. Sport, Goiás, Atlético Paranaense estão num momento melhor, mas não são os favoritos. Não dá para avaliar agora.
Você já disse várias vezes que sonha conquistar um título nacional no Brasil. Mas também falta ainda ser artilheiro de uma competição nacional. E mais: o recorde de gols numa edição são 29, do Edmundo. Você acha que pode alcançar esta marca? Afinal, você tem uma média de um gol por jogo no Vasco e a Copa João Havelange tem, no mínimo, 24 rodadas...
R: É sempre bom bater recordes. Eu ficaria amarradão em superar esta marca, mas todo recorde é difícil de ser batido. De todos os campeonatos que disputei, só não fui artilheiro da Copa do Mundo e do Brasileiro. Mas, hoje, o que quero é fazer gols que ajudem o Vasco, que levem o time à vitória. O gol contra o Atlético Paranaense, por exemplo, não valeu de nada. Empate em casa, para mim, é mesma coisa que derrota.
Os líderes da artilharia atualmente, Allann Delon e Dill, são cavalos paraguaios, como você já disse uma vez sobre a disputa da artilharia no Estadual?
R: No Brasileiro, eu nunca tive uma regularidade, uma seqüência de gols. Meu desempenho nunca foi dos melhores. Mas esses garotos estão despontando e têm qualidade. Não é qualquer atacante que marca dez gols em dez rodadas no campeonato que é considerado o mais difícil do mundo.
Mudando um pouco de assunto, você vem sendo muito elogiado pelo Zagallo, seu desafeto e que lhe acionou na Justiça por causa da caricatura no "Café do Gol". Vocês estariam fazendo as pazes?
R: Eu nunca tive nada contra ele, o problema é dele comigo. O que aconteceu no Café do Gol ele achou chato, foi para Justiça, eu respeito. Mas ele tem respaldo para avaliar o desempenho de um jogador. Afinal, ele conquistou quatro títulos mundiais para o Brasil. Tem propriedade para falar.