Canberra - Quando as pivôs Alessandra, de 2m, e Cíntia Tuiú, de 1,98m, começaram a defender a seleção brasileira, em 1993, em um campeonato sul-americano, foram chamadas porque eram altas e tinham a missão de dar à seleção do basquete feminino o que o time precisava, jogo de pivôs, sob o garrafão.
"O basquete feminino do Brasil é como cobertor de pobre, curto, cobre a cabeça, descobre o pé", brinca o técnico Antônio Carlos Barbosa, ao analisar o grupo que está em Sydney.
Atualmente, as pivôs são a parte que está coberta, já que o treinador ainda sofre para definir quem será a armadora e a lateral, as jogadoras mais baixas, que atuam fora do garrafão. Essa seria a parte descoberta com a saída de Paula e Hortência.
O treinador acha que as pivôs têm sido regulares, fruto de uma permanência na seleção brasileira que já dura sete anos e também da experiência internacional que adquiriram. Defendendo o Brasil, as duas foram campeãs mundiais, na Austrália, em 1994, e medalha de prata, em Atlanta, em 1996.
Alessandra, de 26 anos, joga no Comense, de Como, e Cíntia, de 25, no Beesbasket, de Treviglio, equipes que disputam o Campeonato Italiano. O time de Alessandra também disputa a Euroliga. As duas passaram pela WNBA antes de voltar à seleção. Cíntia fez 34 jogos pelo Orlando Miracle, mas Alessandra, depois de problemas no time de Indiana, voltou mais cedo, direto para a seleção.
O basquete internacional foi a forma que as duas encontraram para ganhar dinheiro com o trabalho. Cíntia, inclusive, chegou a ficar sem clube depois de recuperar-se de uma cirurgia no joelho direito em 1997. "Eu não tive trabalho por causa do ranking e o jeito foi me virar." Ela passou rapidamente por Portugal e pela Hungria antes de chegar à Itália, 2 anos e meio atrás.
Alessandra saiu do país 3 anos e meio atrás, mas as duas ainda têm contrato à cumprir. Assim que terminar a Olimpíada elas apenas passam pelo Brasil. Voltam para a Europa -a Liga Italiana, com 14 equipes, começa no dia 8 de outubro.
Ficar sem espaço no basquete brasileiro não foi ruim para as pivôs que consideram a vida na Europa um aprendizado. As duas falam, lêem e escrevem em italiano e conhecem a cultura do país -falam nas pinturas de Michelangelo, no Duomo de Florença, e nas comidas, que adoram. "É capelletti a bolonhesa, in brodo, mussarela de búfala, pasta ao pesto e o sorvete então... é maravilhoso."
No basquete, os anos de seleção e a passagem pela Europa e Estados Unidos, geraram a confiança de que é possível jogar contra várias equipes do mundo e, sobretudo, o amadurecimento. "Hoje a responsabilidade é bem maior", afirma Cíntia. "Eu jogo basquete porque amo, mas eu queria mostrar que era alguém e hoje, ser titular da seleção brasileira aumenta a responsabilidade sim", completa Alessandra.
A responsabilidade não pode transformar-se em pressão, e Alessandra acha que o Brasil deve se preocupar em fazer boas apresentações "colhendo o fruto disso" na Olimpíada.
Cíntia avisa que o time deve pensar em um rival por vez, dia sim, dia não, a partir do dia 16, quando estréia contra a Eslováquia.
Agência Estado