Sydney - Os Estados Unidos estão na Austrália para arrasar, para fechar o milênio com pelo menos 100 medalhas e 40 delas de ouro. Essa é a meta do Comitê Olímpico Norte-Americano. Robert Condron, o diretor de serviços de comunicação não classifica a informação como prepotência ou desconsideração para com os adversários. É simplesmente uma constatação. Enquanto fala, recebe um voluntário especialmente designado para os norte-americanos, que trata dos ingressos e credenciais necessários para algumas competições. Ele está ali com algumas entradas que lugares privilegiados.
O país levou nada menos que 602 atletas para Sydney. "Em Atlanta-96 tivemos mais gente: 698. Mas era porque, como país da cidade-sede, estávamos automaticamente classificados para todos os esportes, o que não é o caso agora (a Austrália está com 625)." Em casa, há quatro anos, os Estados Unidos arrecadaram 101 medalhas, 44 delas de ouro, 32 de prata e 25 de bronze. "Mesmo com menos atletas queremos igualar esse número. Ou pelo menos chegar a 100, com 40 de ouro. Porque nós fazemos as contas do total, sim, mas também das medalhas de ouro. Queremos liderar o quadro geral de medalhas dos dois jeitos."
Condron não vê rivais pela frente. Só diz que está "adorando" o clima dos Jogos: "É uma gente espetacular, amiga. E todos estão muito alegres com a Olimpíada, de crianças a idosos. Eles amam seu país.
Estivemos esperando seis anos com muita ansiedade por esta Olimpíada em Sydney e acredito que será a melhor de todas. Problemas todos têm, mas as facilidades... É local de treino, a Vila Olímpica. Os atletas norte-americanos estão amando ficar na Vila Olímpica."
Condron acrescenta que "está muito mais difícil conquistar medalha hoje do que há 20 anos", depois que a União Soviética se esfacelou em várias repúblicas. "Agora são vários países na briga pelos três lugares do pódio.
Levando-se em conta também que estamos com menos atletas, está mais ainda complicado chegar às 100 medalhas."
O dirigente norte-americano até se mostra nostálgico da rivalidade com a antiga URSS: "Agora não temos um rival natural. Esse duelo se foi com a União Soviética. Agora as forças estão muito mais distribuídas. A Austrália, por exemplo. Somos muito ligados, viemos da mesma Inglaterra. Está bem que nós fomos colonizados mais por motivo de religião e eles, de prisão. Mas no fundo, é quase a mesma coisa... Gostamos muito dos australianos. Bem, está bom: fora das piscinas!”, brincou.
Condron lembra que há técnicos de todos os países espalhados pelo mundo, ensinando técnicas, trocando informação. "Também ficou mais difícil ter ‘um modelo’ de ganhar medalhas. Mas o povo norte-americano continua faminto por medalhas. Por causa de vocês, da mídia, que se concentram nisso e acabam levando o público a se concentrar junto. De todo jeito, é a nossa meta, claro. Se são medalhas já desvalorizadas porque vêm uma atrás da outra, o que não é caso de outros países? Está bem, pode ser . Mas a gente quer ganhar medalhas. Sempre se quer ganhar todas."
País ‘pequeno’ no gelado Robert Condron encontra um jeito de disfarçar, com relação ao massacre que os Estados Unidos acabam impondo nas Olimpíadas: "Isso não é verdade nas Olimpíadas de Inverno. O que acontece com vocês, quando ganham uma medalha, aí acontece com a gente: é uma grande festa! Em todos os Jogos de Inverno ganhamos seis medalhas de ouro!" O dirigente observa: "Não estamos nem perto de dominar o quadro de medalhas. Não somos um país predominantemente de inverno. Isso é com Noruega, Rússia, Alemanha. Nem acho que um dia iremos estar na cabeça da tabela. O que o comitê faz é tentar contribuir para o desenvolvimento desses esportes, também oferecendo facilidades, cursos para técnicos."
O mecanismo que leva os Estados Unidos à liderança do quadro geral de medalhas a cada Olimpíada é sustentado por patrocinadores. São estreitas as relações do Comitê Olímpico dos Estados Unidos com as Federações Esportivas daquele país, mas boa parte delas trabalha de forma independente, com patrocinadores próprios, decisões e prêmios. O comitê tem verba de 15 patrocinadores principais e também da NBC, a rede de tevê.
"Garantimos uma verba de US$ 40 milhões por quatro anos dos patrocinadores e da NBC. Sim, a gente recebe 10% do que a NBC paga ao Comitê Olímpico Internacional (US$ 3,5 bilhões até 2008, por direitos de transmissão aos Estados Unidos com exclusividade - ou US$ 705 apenas para esta Olimpíada de Sydney. Explico: é um mais um acordo nosso com o COI, porque a NBC tira potenciais patrocinadores que a gente poderia ter. É justo, porque a gente perde dinheiro por causa dela." Oitenta por cento dessa verba é redistribuída para as federações menores, de esportes quase desconhecidos dos norte-americanos, como judô, arco e flecha, esgrima.
"A quantia para os atletas não é muito alta. Uns US$ 2 mil por mês. Mas pagamos viagens, treinamentos especiais, ajudamos a conseguir emprego. Também temos aqui um limite para prêmios em dinheiro por medalha olímpica: US$ 15 mil por ouro, US$ 12 mil por prata, US$ 10 mil por bronze e US$ 7,5 mil em esportes em que são duas as medalhas de bronze, como o boxe e o judô. Ah, é muito importante: garantimos o seguro-saúde de todos, o que é muito bom para eles, muito importante. São US$ 200 por mês."