Sydney - Os maiôs que diminuem o atrito da pele com a água podem até ajudar - do ponto de vista físico e psicológico. As piscinas, cada vez mais sofisticadas também tem uma tecnologia de ponta - a água não "balança", os movimentos não provocam marolas, com profundidade e temperatura adequadas, etc - que permite ao nadador não perder preciosos segundos. Mas a quebra de recordes, sem artifícios, pode ser explicada pela adoção da ciência e da tecnologia aliadas a um programa de desenvolvimento de talentos. O Brasil, na avaliação dos técnicos que estão em Sydney, está 12 anos atrasado em relação a países como Estados Unidos, Austrália, Itália, Holanda, Ucrânia, Suécia, entre outros.
A quebra de recordes mundiais nesses Jogos Olímpicos de Sydney, algo incomum, uma vez que nesse tipo de competição os nadadores estão preocupados em ganhar medalhas e não em nadar por melhores tempos, já abriu um debate polêmico. Mas Reinaldo Dias, técnico da equipe brasileira, acredita que os recordes de Sydney podem ser atribuídos a programas de formação de atletas bem estruturados, diferente do que ocorreu com o falso “boom” da natação chinesa feminina na primeira metade dos anos 90. "Nesse caso, pode-se dizer que não existia nada lá a não ser doping", afirma.
"Mas há países que investem e vem melhorando devagar - o programa da Austrália já tem quase 20 anos." O balanço depois de dois dias de provas já impressionava - a natação só termina no sábado, depois de sete dias de competições. O acumulado apontava para oito recordes mundiais, em sete finais, e 14 recordes olímpicos. No segundo dia de provas do programa no Centro Aquático de Sydney, no Parque Olímpico, sempre com as arquibancadas lotadas, mais medalhas e recordes foram sendo registrados, até mesmo em semifinais, como o de Pieter van den Hoogenband, da Holanda, com o tempo de 1min45s35, que derrubou um recorde de Ian Thorpe.
Ainda teve o recorde mundial dos 400 m, medley, de Tom Dolan, dos Estados Unidos, que melhorou sua própria marca, com 4min11s76. E da "exterminadora" de recordes, a holandesa, Inge de Brujin, nos 100 m, borboleta, com 56s61, melhorando sua própria marca.
Os italianos também conseguiram o primeiro ouro da história da natação do País, com Domenico Fioravanti e o recorde olímpico para os 100 metros, peito, com 1min00s46. "O que a Itália e outros países, como a própria Austrália, vêm fazendo nesses Jogos deve ser o resultado de programas bem desenvolvidos", ressalta Reinaldo Dias, do Brasil. "É só montar o programa, detectar o talento e trabalhar." Para isso, o esporte brasileiro dependeria de verbas governamentais que não possui.
Os técnicos brasileiros cobiçam a estrutura que os australianos levaram para dentro da piscina. A comissão médica tem seis fisioterapeutas, nenhum atleta deixa a piscina sem levar um furinho na orelha para o teste de lactato e a Olimpíada virou um laboratório para estudos biomecânicos - tudo o que é filmado em baixo da água vira análise de movimentos.
O Brasil não conta com os recursos para trabalhar com a análise biomecânica - seria necessário um aparelho de cerca de US$ 60 mil, mais câmaras dentro e fora da água. "Estamos trabalhando com borrachinhas e eles estão aí cheios de máquinas à disposição", observou o técnico Sérgio Luiz Sampaio Lacerda Silva. Ele acrescenta que o País ainda trabalha de forma empírica, sem nenhum subsídio da ciência, do pessoal "de fora da água". "Eles têm fisiologistas para fazer teste de lactato, nós trazemos o Luiz Raphael (técnico de Luiz Lima), que traz a sua máquina e que faz ele mesmo os testes."