Sydney - Braços chacoalhando, água espirrando para todos os lados, mais parecia um garoto aprendendo a nadar. Se houvesse um salva-vidas, provavelmente teria pulado na água para socorrê-lo. Mas isso aconteceu em uma prova olímpica. E Eric Moussambani, 22 anos, da pequena Guiné Equatorial, entrou para a galeria dos heróis olímpicos, aqueles que ainda seguem o ideal do Barão de Coubertain. Para ele, o importante era competir.
Mais do que isso, o importante era estar em Sydney. Eric completou os 100 m em 1min52s72. Nadou sozinho, já que seus dois concorrentes queimaram a largada e foram desclassificados.
Se é uma covardia comparar a marca com os 47s84 do recorde mundial do holandês Pieter van Hoogenband, uma comparação melhor caberia com o paraense André Rodant, líder do ranking brasileiro mirim, para garotos até 10 anos, que faz a prova em 1min04, quase 50 segundos melhor que o africano.
Apoio internacional Quem viu a cena pela TV deve ter se perguntado por que Eric estava lá. A resposta vem de um programa que o Comitê Olímpico Internacional criou para que todas as nações pudessem estar presentes na Olimpíada. A Guiné Equatorial, pequeno país do norte da África, de apenas 400 mil habitantes, dificilmente conseguiria classificar um atleta com os índices e torneios classificatórios das federações internacionais.
Com o programa do COI, quatro atletas representam o país e Eric foi o primeiro deles a competir. Seu treinamento não foi nada adequado, já que não existem piscinas olímpicas na Guiné. Ele treinava em uma de 20 metros, sem raias. A seletiva foi realizada quando membros do Comitê Olímpico do país saíram perguntando quem queria nadar. A prova foi realizada na piscina de um hotel. De início, Eric não queria competir nos 100 m. Achava que a distância era longa demais.
Seu tempo, apesar de tão alto, já foi homologado como o recorde nacional para a distância. Antes dele, nenhum nadador do País havia feito a distância em piscinas com a regulamentação da Federação Internacional de Natação. Foi aplaudido de pé pela torcida australiana. "Queria mandar beijos e abraços para todos", disse ele, que faz bacharelado em Ciências e fez sua primeira viagem internacional. Eric achou o máximo a experiência.
Quando voltou para a Vila Olímpica, outros atletas haviam colocado uma placa na porta de seu quarto: `O lar de Eric, O Nadador'. "Estou adorando a Olimpíada. Quero voltar em Atenas."