Sydney - A permanência do técnico Wanderley Luxemburgo no comando da seleção brasileira ficou insustentável. O presidente da Confederação Brasileira de futebol (CBF), Ricardo Teixeira, deixou na madrugada deste sábado o estádio The Gabba muito nervoso e irritado, não deu entrevistas e seguiu para o hotel da delegação, na cidade de Gold Coast, no ônibus dos atletas e da comissão técnica. Até o final da noite em Brisbane (começo da tarde deste sábado em Brasília), não havia a confirmação do afastamento do treinador.
Isso, no entanto, deve ser anunciado oficialmente a qualquer momento. A reprovação ao trabalho de Luxemburgo já era evidente entre diretores da CBF e os patrocinadores da seleção, a Coca-Cola e a Nike do Brasil. Tudo por causa da péssima campanha da equipe nas Eliminatórias do Mundial de 2002 e também pelas denúncias, não comprovadas, de que ele teria cometido crime de sonegação fiscal e de falsificação de documentos. A preocupação maior dessas empresas, porém, refere-se a uma suposta eliminação do Brasil no torneio classificatório para o Mundial, o que lhes acarretaria sérios prejuízos.
Dois dias antes do fracasso da equipe na Olimpíada, uma pessoa influente, ligada à Nike, cujo contrato com a CBF vai até 2006, disse que a empresa de material esportivo jamais interferiu em assuntos de seleção. Ela fez, no entanto, uma ressalva: a de que a Nike gosta e precisa de vitórias.
A expectativa era a de que Luxemburgo entregasse o cargo a Teixeira, durante o trajeto de volta para Gold Coast. Na entrevista coletiva, logo após a humilhante derrota para Camarões, ele disse que o dirigente teria toda liberdade para eventuais mudanças e que o deixava à vontade para isso. Apesar do tom melancólico em seu discurso, Luxemburgo lembrou que a seleção principal tem apresentação prevista para 3 de outubro, a fim de se preparar para o jogo com a Venezuela, dia 8 pelas Eliminatórias. "É a informação que posso passar agora para vocês."
Em seguida, reiterou que o projeto da atual comissão técnica é a próxima Copa do Mundo. Uma possibilidade, pouco provável, mas plausível, é a de que Luxemburgo dirija a seleção na partida contra os venezuelanos antes de sua despedida. Essa hipótese pode ser reforçada pelo fato de ele ter convocado ontem dez jogadores, que atuam no exterior, para o jogo com a Venezuela. Ele deixou o gramado do The Gabba com os olhos vermelhos, muito abalado. "Me sinto com vergonha por tudo isso e peço desculpas a 180 milhões de brasileiros."
Luxemburgo disse que assumia a "responsabilidade maior" pela desclassificação do Brasil, "cerca de 70% do que ocorreu", lamentou os gols perdidos pela seleção na prorrogação, fez elogios à "aguerrida" equipe de Camarões, e tentou, o tempo todo, defender seus jogadores. "Eles têm qualidade, não podem ser execrados." O embarque de volta para o Brasil está previsto para segunda-feira, em vôo de carreira.