Sydney - Ele já ganhou o título de ``o homem mais rápido do mundo''. Mas, apesar de parecer tranqüilo um dia depois de sua vitória olímpica, vestindo camiseta vermelha e jaqueta azul, Maurice Greene ainda é perseguido pelas corridas que tem pela frente.
Admite que seus treinos com o técnico John Smith são recheados de ansiedade: alguém, em algum lugar, pode estar se esforçando muito mais.
Ele traz a medalha de ouro dos 100 metros guardada no bolso lateral, e a retira de forma triunfante para as câmeras durante a entrevista coletiva de domingo.
Mas Greene tem ainda de convencer a si próprio que o melhor está por vir. ``Para ser o número um você precisa treinar como se fosse o número dois. Porque se treinar como o número um, não tem mais aonde ir'', disse.
``Eu tenho um pouco mais aonde ir.'' Para quem é tão fanfarrão e confiante -- acusado pelo mídia de ser vaidoso e convencido- ele não teme falar sobre seus medos.
Nos treinamentos, diz, o pensamento mais perturbador na sua mente foi: ``a pessoa atrás de mim está trabalhando mais duro do que eu''.
``Eu coloco muita pressão em mim mesmo. Na verdade, coloco 10 vezes mais pressão em mim do que qualquer outro''.
Na noite da final de sábado, Greene era um saco de nervos. A casa em Sydney que compartilhou com seu parceiro de treinos Ato Boldo, de Trinidad e Tobago, que mais tarde ficaria com a prata, caiu em silêncio.
Nada a ver com a atmosfera dos dias anteriores, preenchida por música e risos. ``Parecia que alguém tinha morrido naquela casa'', disse Boldon. ``Isso é o que acontece quando os nervos tomam conta.''
O técnico Smith deixou a pressão dominar. ``É o auge do esporte, é a razão pela qual se vive e sonha'', disse. ``Você acha que se acostuma'' disse ele sobre a tensão antes da prova. ``Mas não.''
Smith sentiu -- e com razão -- que suas duas estrelas passariam por cima disso. Greene é o único homem do mundo que fez os 100 metros em menos de 10 segundos com regularidade neste ano.
Boldon recuperou-se de um machucado -- o primeiro em sua carreira profissional -- que o manteve for a de ação por sete meses. Mas, como ele diz, ``não conte com as galinhas ainda no ovo.''
Então Greene mostrou o que separa um vencedor de outro corredor: todas as dúvidas desapareceram.
As esperanças australianas sumiram com Matt Shirvington na semifinal. Perturbado com o fracasso, ele disse que não estava preparado para a atmosfera de pressão das Olimpíadas.
Greene estava. ``Quando você se prepara precisa acreditar 100 por cento que vencerá'', disse.
Nos Jogos de 1996, em Atlanta, Greene viu a final das tribunas, chorando.
Agora, depois de cruzar a linha, caiu de joelhos e murmurou ''obrigado Senhor'', antes de dar a volta da vitória e de atirar as sapatilhas douradas para a torcida.
``Você trabalha quatro anos para algo que dura nove segundos'', disse Greene. ``Na noite passada chorei lágrimas de prazer.''