Indianápolis - O mundo ultraprofissional da Fórmula 1 às vezes surpreende por seu amadorismo. Um bom exemplo disso é o constrangimento a que a equipe Williams submeteu, em Indianápolis, o piloto revelação da temporada, Jenson Button, cobiçado por todos e dispensado por Frank Williams.
"Quando vi o Montoya dentro dos boxes, com o rádio da equipe, eu não sabia o que pensar", disse Button, de apenas 20 anos. Na sexta-feira, o colombiano, atual campeão da Indy e substituto de Button em 2001, entrou já no clima de piloto do time inglês.
"Claro que eu preferiria permanecer na Williams", revelou Button, que por ter sido dispensado da escuderia correrá nos próximos dois anos na Benetton.
"Eu não fiquei surpreso com a decisão de Frank Williams. Mesmo que Montoya não tivesse assinado ainda o contrato, via nos olhos das pessoas da minha equipe que a opção por ele já estava feita."
Não há mágoa em Button. "Ao menos tive a chance de expor meu trabalho e, quem sabe, estar de volta à Williams daqui a dois anos, quando, com certeza, eles estarão lutando pelas vitórias."
No ano passado, Button terminou em terceiro lugar no Campeonato Britânico de Fórmula 3. Como não tinha credencial para o GP da Grã-Bretanha de F-1, assistiu à corrida na arquibancada, na curva Stowe. "É verdade, no ano seguinte, que foi este, eu já estava no grid com um carro da Williams.
Era difícil para mim acreditar que fosse verdade." Para melhorar, terminou em quinto.
Muito provavelmente, nem o próprio Button imaginava conseguir sucesso tão rapidamente. Sem nenhuma experiência - com o carro, as pistas, a equipe -, ele está em oitavo no campeonato e já conseguiu 10 pontos, resultado de um sexto lugar no Brasil, três quintas colocações (Inglaterra, Áustria e Bélgica), e a classificação em quarto na Alemanha.
Nada disso, nem o reconhecimento unânime da Fórmula 1. que o tratou como um grande talento emergente, foram capazes de convencer Frank Williams a mantê-lo em seu time. Mais: a pressão da torcida inglesa, que com o abandono de Johnny Herbert, no final deste campeonato, ficará com apenas um representante na F-1: Button. "Não tenho resposta por que estou sendo substituído. A pergunta deve ser feita a Frank Williams."
A maturidade surpreendente demonstrada por Button pode ser explicada pelo desligamento precoce de casa. "Com 14 anos eu já morava com uma família estranha na Itália, quando competia no kart." Sua carreira começou quando tinha apenas oito anos, no kart.
"Para situações como a desta sexta-feira tenho meu pai e meus empresários sempre comigo, que me ajudam a superar." Ele se referia à presença de Montoya nos boxes e, aparentemente, sem que ninguém o tivesse avisado antes.
"Apesar de ter disputado apenas 14 provas, tenho a sensação de que já estou na F-1 há quatro ou cinco anos", diz Button, com naturalidade. "Depois do primeiro teste com o carro da Williams, saí do cockpit com a impressão de que a F-1 era menos difícil do que eu imaginava. Mas quando fui participar do primeiro treino na Austrália e vi quantos pilotos excelentes existem aqui compreendi que o desafio era muito maior do que imaginara."
Sua capacidade de ser muito veloz sem conhecer os circuitos e cometer poucos erros é o resultado do seu método de aprendizado. "Não sou do tipo de buscar o limite de cara, errar e depois recuar porque não deu certo. Isso na F-1 pode custar caro", alerta Button. "O melhor é construir seu desempenho volta a volta, com cuidado e sabendo exatamente o que está fazendo."
Pouquíssimas pessoas na F-1 acreditam que Button não será, um dia, campeão do mundo.