Sydney - A norte-americana Marion Jones, campeã olímpica dos 100 metros rasos, deixou nesta terça-feira a concentração e os treinos para defender o seu marido, o campeão mundial do arremesso do peso, C. J. Hunter, que teve teste positivo de doping para nandrolona. Marion, que tentará a conquista de outras quatro medalha de ouro em Sydney, foi à coletiva dada pelo marido num salão do Centro Principal de Imprensa do evento. Ela disse apenas que dá total apoio a Hunter e que acredita em sua inocência.
Hunter, um gigante de mais de 125 quilos, chorou ao garantir que não sabe como explicar como foi flagrado em quatro exames antidoping entre junho e julho - um no meeting de Oslo, na Noruega, e três em controles fora de competição. "Juro que vou tentar descobrir o que aconteceu", afirmou ele, bastante emocionado, antes de repetir várias vezes: "Não sei o que aconteceu." O campeão mundial desistiu de competir na Olimpíada pouco antes do início do evento, alegando uma contusão no joelho. Hunter, porém, já havia sido avisado por dirigentes da Federação de Atletismo dos Estados Unidos do resultado positivo na primeira prova (depois foi feita a contraprova, que confirmou a presença do esteróide anabolizante).
Casado com Marion há dois anos, ele disse que não faria nada para magoar as pessoas a quem gosta. "Amo minha mulher e meus filhos", disse o atleta, que está em seu segundo casamento. "Nunca colocaria em risco a opinião deles sobre mim, ainda mais no esporte", prossegue. "A Olimpíada não é tão importante para mim, é só uma oportunidade de viajar de graça pelo mundo ao lado de minha mulher."
Para ajudar em sua defesa, Hunter contou com a ajuda de um nutricionista, Victor Conte, de um laboratório de São Francisco, Estados Unidos. Ele disse que o teste positivo foi causado pela ingestão de um suplemento de ferro que Hunter vinha tomando. Conte garantiu que o ex-campeão olímpico dos 100 metros rasos, o inglês Linford Christie, e a jamaicana Merlene Ottey tomaram o mesmo suplemento e também tiveram testes positivos para nandrolona.
C. J. Hunter, que competiu no ano passado no Rio Grand Prix Brasil de Atletismo, é um verdadeiro guarda-costas para Marion, a quem conheceu quando a velocista ainda estudava na Universidade da Carolina do Norte. Na época, Hunter era assistente técnico. Por causa do namoro com Marion, Hunter foi obrigado a demitir-se do cargo (o estatuto da universidade não permite relacionamento amoroso entre professores e alunos).
O anúncio oficial do doping abalou Marion, que tem o desafio de competir ainda nos 200 metros rasos e no salto em distância, além de integrar os revezamentos 4 x 100 e 4 x 400 metros rasos. A imagem da atleta também pode sair arranhada de todo o processo. Afinal, por causa do uso indiscriminado de drogas no esporte, sempre há suspeitas quando o desempenho é considerado excepcional ou quando se traça planos ambiciosos como a tentativa de conquista de cinco medalhas de ouro numa Olimpíada.