Sydney - Derrotas gloriosas e vitórias trágicas -- a maratona olímpica sempre conta uma história fascinante. Do pastor grego Spiridon Louis em 1896 ao sul-africano Josia Thugwane em 1996, a maratona masculina compreende um século de drama.
Gravados em seus anais estão corredores de todo o mundo que se recusaram a desistir. Perdedores recebidos com tantos louros quanto vencedores. O mais famoso de todos os perdedores da maratona foi o italiano Dorando Pietri, que teve um colapso quando já avistava a linha de chegada nos Jogos de Londres, em 1908.
Desorientado e exausto, ele entrou cambaleante no estádio e tomou a direção errada. Organizadores da prova encaminharam-no para a direção certa, mas ele teve um colapso e foi carregado até a linha de chegada e em seguida desclassificado por causa da ajuda.
Pietri tornou-se uma celebridade internacional instantânea. Sua coragem espalhou pelo mundo uma paixão pela maratona. A medalha de prata em nobreza é de John Akhwari, da Tanzânia, nos Jogos do México em 1968. Ele entrou cambaleando no estádio, com o joelho ensangüentado e enfaixado depois de uma queda.
A medalha de bronze de nobreza na derrota teve que ser dividida. Nos Jogos de Los Angeles em 1984, o haitiano Dieudonne Lamothe foi o 78o competidor a chegar ao final da prova. Ele não disse nada à imprensa na hora, mas, depois da queda do ditador ``Baby Doc'' Duvalier, revelou que as autoridades olímpicas de seu país ameaçaram matá-lo se ele não chegasse ao fim da prova.
O outro nobre perdedor é o afegão Abdul Baser Wasigi. Nos Jogos de Atlanta, em 1996, funcionários estavam preparando a pista para a cerimônia de encerramento quando ele chegou cambaleando. Voluntários cortaram rapidamente um pedaço de fita adesiva, escreveram nela ``Atlanta 96'', e a esticaram para que Wasigi cruzasse a linha de chegada depois da mais lenta maratona da história olímpica.
O vencedor naquele dia foi o sul-africano Josia Thugwane, que apenas cinco meses antes tinha levado um tiro no queixo quando ladrões atacaram seu carro. O etíope Abebe Bikila foi um dos maiores maratonistas de todos os tempos, vencendo em Roma em 1960 e em Tóquio em 1964. Mas sua vida teve um fim trágico.
Dirigindo o carro que o governo de seu país lhe deu como recompensa, ele bateu, quebrando o pescoço e ficando paralisado. O atleta morreu de hemorragia cerebral aos 41 anos.
A maratona foi inspirada na trágica lenda de Fidípedes, que teria levado a notícia da vitória grega sobre os persas na batalha de Maratona no ano 490 a.C. Ao chegar a Atenas, ele teria gritado ``Alegrem-se, nós vencemos'', caindo morto de esgotamento em seguida.
O pastor grego Spiridon Louis tornou-se herói nacional em 1896, quando correu a primeira maratona das Olimpíadas modernas. Muitos anos depois da vitória histórica que mudou sua vida, Louis disse: ``Aquele momento foi algo tão inimaginável que ainda aparece na minha memória como um sonho''.