Sydney - O técnico Bernardo Rezende já mostrou competência ao levar um grupo sem estrelas, totalmente renovado em relação à Olimpíada de Atlanta, à disputa da medalha de bronze em Sydney. Mas e depois? Bernardinho vai pensar. Dirige o Rexona até abril, no fim da Superliga, por força de contrato, mas acha que se tornou impossível conciliar o trabalho no clube e na seleção brasileira de vôlei feminino.
O trabalho de "formar uma nova geração" para a seleção brasileira, sem contar com jogadoras de muito talento, vai exigir exclusividade de Bernardinho. Por isso, ele está pensando se continua ou não no comando do time do Brasil.
Bernardinho não vai para os Estados Unidos, como chegou a anunciar sua mulher, a levantadora Fernanda Venturini, que deixa o time do marido, no Paraná, seduzida pelo salário milionário do Vasco. Não quer afastar-se do filho Edinho. Também não pretende aceitar nenhum dos dois convites que recebeu para comandar seleções estrangeiras. Foge de perguntas sobre ser o futuro comandante da seleção masculina do Brasil. Diz que vai pensar.
"Se eu continuar, depois da Superliga, não dá para manter as duas frentes", afirmou. "Eu ou qualquer outro que continuar tem de estar os 12 meses do ano voltado para a seleção, para o Mundial de 2002, para a Olimpíada de 2004." A seleção tem problemas sérios a resolver, avalia o técnico, como a falta de uma levantadora para substituir a Fofão ou uma ponteira que passe, para o lugar de Virna. "Não que elas devam ser substituídas já, mas em algum momento, em um futuro próximo, isso vai ocorrer."
Bernardinho não foi direto ao responder o que o motiva mais, se desenvolver o projeto do Rexona, no Paraná, ou continuar trabalhando para manter a seleção brasileira entre as primeiras do mundo. O técnico afirmou que não gostaria que o projeto que criou no Paraná se desfizesse. "O que eu não posso é continuar unindo as duas coisas, daqui a um mês estar novamente em quadra tendo o mesmo desgaste." Trabalhar com a seleção motiva o treinador. "Mas vou ter de pensar muita coisa."
O Brasil, segundo Bernardinho, tem de trabalhar sempre e rápido, a partir do Mundial Juvenil, no ano que vem. O técnico revelou que também está insatisfeito com a "cultura" do brasileiro de ficar buscando o tempo todo o que é ruim. "O tempo todo só se quer saber de ti-ti-ti e fofoca, sem respeito a quem trabalha sério e quer contribuir." Disse que um time não pode deixar de tentar o máximo. As suas críticas resvalaram até no trabalho de preparação mental que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) decidiu fazer em Sydney com o psiquiatra Roberto Shinyashiki.
Na avaliação do técnico, um trabalho psicológico com uma equipe tem de ser feito durante um longo processo. "Tem de ter ele aí vivenciando todas as situações e acima de tudo, trabalhando como apoio para a comissão técnica, para que não se crie poderes paralelos." Bernardinho apóia o trabalho psicológico no esporte, mas dentro de um processo passo-a-passo, de conhecimento do grupo. "Não acredito que alguém vá chegar em uma semana e vá fazer algo para mudar, por mais competente que possa ser, que é o caso do Roberto."