São Paulo - Procura-se um gordinho ou um magrinho para ser parceiro de Robert Scheidt na Olimpíada de Atenas, daqui a quatro anos. Colecionador de títulos na classe Laser, esse grande iatista brasileiro não é mais um garoto. Já tem 27 anos e pensa seriamente em mudar de categoria para dividir com alguém a tarefa de velejar: "Quanto mais velho fica o velejador, maior o barco."
Na Star, seria necessário um proeiro mais pesado para diminuir o emproamento do barco - quando a proa (frente) afunda - e dar-lhe mais estabilidade. O veleiro, um monocasco, é pesado (670 quilos) e o peso ideal da tripulação é de 200 quilos - Scheidt tem 79. Já na Tornado, trata-se de um catamarã de apenas 127 quilos. Um proeiro gordo provocaria desequilíbrio. Além disso, é preciso ser ágil para ficar pulando de um casco para o outro.
Na Laser, classe na qual o iatista comanda o barco (de 59 quilos) sozinho, Scheidt já cansou de comemorar. Para citar as maiores conquistas, foram quatro campeonatos mundiais e duas medalhas olímpicas: ouro em Atlanta/96 e prata em Sydney, semana passada.
De volta ao Brasil, ele foi ao salão náutico São Paulo Boat Show. Elogiou a participação brasileira na Olimpíada: "O que importa não é a cor da medalha, é o esforço para se chegar ao pódio." E falou sobre o futuro.
Não é a primeira vez que Scheidt fala em mudar de classe. Já tinha cogitado para Sydney e desistiu. Mas agora parece decidido, não só para experimentar uma atividade nova como para disputar provas nas quais não seja favorito absoluto, nas quais perder não seja um resultado absurdo: "Hoje, sou muito visado. Se pego um segundo lugar, as pessoas perguntam o que aconteceu." Ele cansou de ouvir essa pergunta por não ter sido campeão em Sydney.
Scheidt é o tipo de entrevistado que se esquiva muito bem das perguntas que vão além do que ele quer falar. E foi fácil se esquivar de qualquer especulação mais objetiva sobre seus planos. Não deu qualquer dica sobre quem pode ser o novo parceiro, se é que haverá um, ou sobre para qual classe pretende mudar: "Vou treinar um pouco na Tornado e um pouco na Star para sentir os barcos, sem largar a Laser."
Tudo parece possível. E o fato de que as classes para Atenas só serão definidas em novembro é um ótimo argumento para Scheidt não adiantar nada. Caso mude mesmo, ele acha que terá tempo suficiente para se preparar para a próxima Olimpíada: "Quatro anos é um tempo bom para preparação. Se eu resolver mudar, vou começar a campanha em 2001, na Europa."
Mas ele tem algumas ressalvas, a começar pelo apego ao Laser, barco que lhe trouxe "muita alegria": "Vai ser difícil largar." Outro problema é o fato de sempre ter competido sozinho: "Não tenho muita experiência de velejar com outro tripulante, teria de ser alguém muito disposto a começar da estaca zero." E também disposto a passar boa parte do tempo no exterior, acompanhando-o nas principais regatas do circuito internacional. Mas isso é coisa para 2001, quando Scheidt volta a competir, começando pelo Campeonato Brasileiro: Fortaleza, em janeiro.